O ódio narcisista
O ódio que o narcisista dirige ao objeto de seu alvo - de modo perverso, pessoal e permanente -, não é aquele ódio sobre o qual poderíamos dizer, de certa forma, normal; algo como o oposto do amor e que se ligaria, mínima e consciosamente, à realidade dos fatos vividos. Não. O nome do ódio que o narcisista dispara contra a sua vítima, se é que o narcisista seja capaz de sentir alguma coisa, chama-se filofagia, ou seja, canibalismo. Um instinto muito próximo da fome, como vemos nas representações cinematográficas dos zombies devoradores. Por isso eles sempre voltam para, através do hoovering, predar suas vítimas; fontes de alimento. De fato, esse pathos canibal está à margem do ódio e sequer é um afeto. O ódio é, ainda assim, um sentimento humano, enquanto que o canibalismo narcisista erradica essa humanidade. Diria que o narcisista canibal, caçador e assassino de almas sempre, é, por sua psicopatia instintiva e seu ardil sibilino (no sentido inumano e amoral da palavra), um réptil, ou, naturalmente, se se quiser, onto e filogenéticamente, menos que isso. E se existe um motivo que impulsiona a fome do narcisista e faz com que ele - desde o love bombing até o descarte -, casse a sua presa para extrair dela toda a sua seiva vital, esse motivo só pode ser um, a saber, aquele que o revigora e sustenta: causar dor. ( A. M. 24dez21).