De Invisível a Inexistente
Décadas de 50 e 60, tempos bons os de minha infância, adolescência e mocidade. Ah, como era bom fazermos amizade e conservá-las! Brincadeiras eram tantas, quase intermináveis. O respeito era uma marca da qual podíamos nos orgulhar. As boas maneiras, os bons costumes eram cultivados e fortaleciam o romantismo.
Na cidade onde morei, adolesci e maturei, costumávamos ir à praça socializar e ver as meninas desfilando em voltas e mais voltas, duas, três ou quatro de braços dados a voltear enquanto nós, os rapazes, ficávamos sentados nos bancos, só de jacaré, a lhes observar. Ficávamos ali até o primeiro piscar das luzes da cidade às 20 h 30 min. Mais um pisca, com mais quinze minutos. Era o sinal para voltarmos para casa, pois, às 21 horas em ponto, a iluminação pública seria definitivamente desligada, voltando apenas no dia seguinte, às 18 horas. Se algum obtivesse logro, esse cavalheiro acompanharia sua conquista até a residência dela. Não poucas vezes isso resultava em casamento.
Não tínhamos CPF, telefone celular, mas éramos muito felizes. Tínhamos amigos reais e verdadeiros. É certo que encontrávamos inimigos na caminhada, mas isso era apenas um acidente de percurso. Nossos amigos tinham nome, cor, cheiro e tato. Nossa geração, mais que todas, experimentaram mudanças bruscas e radicais em todos os sentidos, principalmente nos usos e costumes e novas tecnologias.
Com o advento dos computadores pessoais, veio, de quebra, a internet e, com esta, um turbilhão de novas e mais novas tecnologias. Surgiram os aplicativos como ICQ, ORKUT, BELTRANO e símiles precursores das redes sociais que hoje conhecemos.
O que era para nos unir tem-nos afastado mais e mais. O real e concreto deu lugar ao virtual e abstrato. Hoje não passamos de meros CPFs e perfis sociais que roubam nossa verdadeira identidade. Se alguém não participa de alguma rede social, esse é naturalmente cancelado até mesmo por seus familiares e amigos mais chegados.
Atualmente, só participo de um aplicativo de mensagens e raramente num que se autodenomina de livro de fotos. Quase todos os meus amigos e parentes deixaram de se comunicar comigo. É como se eu tivesse morrido, vivendo num limbo, isolado de todos, só pelo fato de não mais frequentar nem curtir esses ambientes voláteis. Tenho saído desse mundo virtual porque tenho-me sentido manipulado e alienado. Tento ser mais eu, mais amigo, mais irmão, mais real, pé no chão. Estou-me restaurando e isso demanda tempo e sacrifício. Difícil é encontrar alguém que viva no mundo e não numa matrix qualquer, para a qual não tenho acesso.
Nem quero imaginar aonde essa alienação tecnológica vai dar. Só sei que o que já deu nos tem causado estragos imensuráveis. Já penso se, de repente a internet deixasse de existir? muitos sucumbiriam com ela.
Que Deus tenha misericórdia de todos nós!