Arranque
Eu só queria arrancar
essa coisa amorfa, que ficou aqui dentro,
depois do fim de tudo.
E tantas vezes eu corri para fora de mim mesmo
para me esconder da dor e desse arrependimento
travestido de saudade.
Talvez eu precisasse jogar sal nas feridas do meu peito
mas eu tentei encher o meu vazio com alcool e fumaça
e com pedaços de outras pessoas.
No fim das contas
as minhas sandálias continuam na porta de casa,
sujas e surradas de tanto andar por aí
e eu deixo tudo bem trancado pra não deixar espaço
pra nada de novo,
por enquanto.
Eu não vou negar que choro,
quando ninguém está vendo
e que as vezes queria perder a memória
e reviver uma felicidade perdida.
Mas eu bem sei,
não se apaga uma história
escrita com a caneta da vida.
A tinta secou,
eu sequei,
e não morri.
Mas no fim,
quem se importa,
com o que eu vivi?
É sexta feira, meu bem.
e todo dia morre alguém,
tudo normal,
nada de novo por saber.
E se a vida é uma viagem,
a morte só é mais uma parada
por fazer.
e enfim,
ninguém sabe dizer
o que tem no final
da linha desse trem.