Cacos I-V
Sextilha Real é uma criação da poetisa Silvia Regina Costa Lima.
Essas composições surgiram enquanto apreciava a "Sonata para Piano n.14, Op. 27 n.2", de Beethoven. Ao mesmo tempo, relembrava de "Dom Casmurro", de Machado de Assis; "Sonetos" lidos na infância, de Forbela Espanca e "Elegia", de Cecília Meireles.
I) Cadeira
Folhas secas amontoam-se
Perdem o curso estagnando sob o chão
Pontas desfalecem sem recomposição
Nas paredes as datas de minha vida interiorizam-se
Esboço do espaço embaçado, quebradiço e ruidoso
Tempo fundo, fútil, frequência do seco, fino e raso.
II) Bosque
Pingados de pontos traçados
Cinco instantes em pedaços é análogo
Remendo cada fio do instante arrebentado
Versos, ecos, curtos e guardados
Flores derretem e dos espinhos memórias
Na lacuna, tempos de sombras e secas.
III) Janela
Do curto sinal de palavra folheou
Transcreveu o coração num instante
No resto procurava impaciente
Existências das cenas que pintou
Significação, silêncio e travessias
Cavando pelas ruas as variáveis lembranças.
IV) Formiga
Perpasse nesses caminhos pesados
Traga-me os versos das paisagens
Una as solturas dessas engrenagens
Rasgue todos os pedaços narrados
Comova as pedras pela manhã
Concerte os desastres sem o amanhã.
V) Escada
Adormeceu sem consolação
Encarcerou as palavras não ditas
Remendou-se para viver os teus dias
Preencheu os buracos do coração
Ao acordar vieram-lhe as inundações internas
Afogando-lhe com o peso de suas pressas.