Volta ao Quarteirão
Hoje decidi...
coloquei uma máscara.
Controlei: ponho essa máscara
para proteger meu rosto...
que mascara meus ossos.
Por precaução, vou colocar
outra máscara em cima das duas.
Assim, são três máscaras para me proteger.
Assim, fico mais protegida do vírus...
e das outras máscaras
que, por mim, vão passar.
Mas afinal, máscara é
para proteger ou para esconder?
Pensei: não preciso (ainda) me esconder, só me proteger.
Proteger de algo que não se vê
com os olhos da máscara dos ossos
mas que se vê com o medo e na solidão
que, por mim, vão passar.
E, finalmente, saio à rua...
só para uma volta ao quarteirão.
O quarteirão está vazio de máscaras
porque não há alguém
que passe por mim.
Assim, sigo mais protegida...
ando até um pouco mais devagar.
Assim, quebro a quarentena no quarteirão.
E sigo a volta
pelo mundo do quarteirão
e pelo vazio de outrxs.
Quase chegando ao portão da minha vila
finalmente vem alguém
caminhando no seu passo lento...
Um outrx, quebrando a quarentena.
E sem máscara sobreposta à máscara dos ossos.
Observei: mais coragem que eu...
que só quebrei a quarentena
(com minhas máscaras!)
dando uma receosa
volta ao quarteirão.