O Homem Absurdo
De repente, um estranho vem ao seu encontro num espelho ou em suas próprias fotografias...
Cansado do sonho de consumo: imagem, dinheiro e poder, o homem absurdo anseia calado pela verdade - verdade de vida, verdade de espírito, verdade de amor.
Uma existência calcada na ficção da exterioridade, não é capaz de riscar a superfície do mundo. O engenho e a criatividade do homem em prol do mero prazer dos sentidos, torna-se um sopro em um espaço vazio. Já não basta!
Uma fala desmedida então ressoa no universo magnífico e miserável do homem: não se conhece a plenitude sem ter travado a luta com o absurdo, pois não há sol sem sombra, e é preciso conhecer a noite.
O preço que se paga pelas paixões desta terra nos arremessa ao mundo como a um imenso rochedo. No mar revolto da existência, crispado pelo vento do pensamento desordenado e no turbilhão de instintos bravios, vê-se o homem isolado e à deriva.
É o começo do despertar!
Em sua nau perdida, encontra ele uma rota - o destino; uma vela - a consciência , e um timão - o sentimento. Nessa transcendência de uma vida náufraga, ele encontra também os instrumentos para a construção de uma existência digna das forças que o dilaceram por dentro.
Torna-se o homem protagonista de si mesmo e se põe à prova, como o mar que se atira aos rochedos. Ele quer colorir os vazios, fazer do tempo que lhe foi dado, seu campo de atuação.
Lampejos de consciência começam a exalar-se pelos poros e vem a revelação: A potência humana está na própria condição que o obriga a jamais render-se.
Permanecer na luta é a única forma de criação, e ser criador depende de um domínio de si mesmo, de suportar suas noites de Getsêmani. Ser criador é ser absurdo, é garimpar forças na irracionalidade do mundo e contemplar nele o colapso da razão sem corromper-se.
Na mesma medida, ser protagonista de si mesmo é ter consciência da própria finitude, da brevidade de sua existência.
Estar aqui e agora sob a condição da finitude não é fácil, mas é a única opção razoável: Fazer da finitude a pedra angular de sua arquitetura é o abandono da passividade.
Cada cicatriz em seu ser, forjada pela própria existência, é o regozijo do homem absurdo, e a própria luta para chegar ao seu destino basta para encher seu coração.
E assim, deixando as coisas inúteis passarem, mas sem permitir que nada passe inutilmente, segue o homem absurdo agora com novo rumo:ele busca aportar, apesar das tempestades, em seu destino final - a felicidade de ter vivido plenamente.