Além da carne

Depois de seis semanas e dois dias, eu e Dalila resolvemos voltar a transar. Mesmo que as coisas continuassem na mesma bagunça de sempre. Bem. Tanto fazia que ela passasse o dia comigo. Ou só batesse na minha porta e se deixasse ficar por algumas horas.

Na real. Tanto fazia pra ela. Como Dalila gostava de dizer.

para mim era uma merda. Por que eu realmente não estava muito à vontade com toda aquela sobrecarga emocional e com toda a incerteza.

Mas algo tinha me impedido de ligar o foda-se e seguir com minha vida sem ela.

Nesse meio tempo, dezembro ia se arrastando e o sol é que tinha ligado o foda-se para toda a raça humana. Pelo menos pra o povo que vivia em Recife, que tinha se tornado um forno à céu aberto. E eu imaginava que era a mesma coisa lá em Olinda, por onde ela costumava a bater perna e se embriagar de axé até o dia clarear. Pra chegar na minha porta com a maior cara lisa do mundo e perguntar se eu tinha seda para o baseado dela. Mas é claro que além da seda, ela se apropriava da minha cama e de um pedaço da minha sanidade e paz de espírito também.

Qualquer dia desses eu ia manda-la pro inferno... antes que ela desaparecesse no carnaval pra ressuscitar na semana santa.

Mas não. Eu não me arrependo de nada.

Só que ainda me pergunto onde ela estaria a uma hora dessas.

Se estaria fodendo

bebendo, amando, ou pensando

se é que ela ainda pensa

em mim,

além do sexo

além da carne,

Rômulo Maciel de Moraes Filho
Enviado por Rômulo Maciel de Moraes Filho em 03/12/2019
Código do texto: T6809842
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