Só mais um lamento qualquer
Eu entro no bar e encontro as mesmas pessoas de sempre
dançando e bebendo
gritando e sorrindo
mesmo que suas juventudes sejam uma repetição depressiva das mesmas coisas
de uma forma que a sexta feira chega a ser um tipo de ponto alto existencial.
Eu me desvio dos bêbados mais exaltados e cumprimento todos os que me reconhecem
e dou boa noite para a dona do bar que me retribui com um sorriso.
não encontro nenhuma mesa vazia
nem sequer uma cadeira.
pego uma cerveja no balcão e me sento no meio fio do outro lado da rua
carros rasgam a noite
e os ônibus se arrastam, lotados de pessoas
exaustas
tão exaustas quanto eu.
E eu sigo bebendo até que só me reste um copo seco.
devolvo a garrafa no balcão e resolvo tentar a sorte no bar ao lado,
Encontro uma mesa vazia, pego outra cerveja e me sento,
satisfeito
apesar de não haver nada melhor para fazer com minha sexta feira
e com minha vida,
à luz do absurdo da minha solidão.
Apesar de tudo, eu gosto
de ser só
e de poder pensar em qualquer coisa
no meio do silêncio
que se instalou nos meus dias.
Já a noite, eu ando pelas ruas
e bebo e amo até me sentir tonto
e sobrecarregado.
e quando volto para casa
me jogo no papel,
como se fosse um tipo de vício
e me escrevo e me descrevo
nos mesmos personagens, e nas mesmas histórias
tentando não soar vazio
como tantas vezes me sinto.
enfim,
talvez seja minha sina,
sempre me lamentar
por todo esse medo
e essa ânsia
por amar tanto
sem saber amar.