Só mais um lamento qualquer

Eu entro no bar e encontro as mesmas pessoas de sempre

dançando e bebendo

gritando e sorrindo

mesmo que suas juventudes sejam uma repetição depressiva das mesmas coisas

de uma forma que a sexta feira chega a ser um tipo de ponto alto existencial.

Eu me desvio dos bêbados mais exaltados e cumprimento todos os que me reconhecem

e dou boa noite para a dona do bar que me retribui com um sorriso.

não encontro nenhuma mesa vazia

nem sequer uma cadeira.

pego uma cerveja no balcão e me sento no meio fio do outro lado da rua

carros rasgam a noite

e os ônibus se arrastam, lotados de pessoas

exaustas

tão exaustas quanto eu.

E eu sigo bebendo até que só me reste um copo seco.

devolvo a garrafa no balcão e resolvo tentar a sorte no bar ao lado,

Encontro uma mesa vazia, pego outra cerveja e me sento,

satisfeito

apesar de não haver nada melhor para fazer com minha sexta feira

e com minha vida,

à luz do absurdo da minha solidão.

Apesar de tudo, eu gosto

de ser só

e de poder pensar em qualquer coisa

no meio do silêncio

que se instalou nos meus dias.

Já a noite, eu ando pelas ruas

e bebo e amo até me sentir tonto

e sobrecarregado.

e quando volto para casa

me jogo no papel,

como se fosse um tipo de vício

e me escrevo e me descrevo

nos mesmos personagens, e nas mesmas histórias

tentando não soar vazio

como tantas vezes me sinto.

enfim,

talvez seja minha sina,

sempre me lamentar

por todo esse medo

e essa ânsia

por amar tanto

sem saber amar.

Rômulo Maciel de Moraes Filho
Enviado por Rômulo Maciel de Moraes Filho em 06/11/2019
Reeditado em 06/11/2019
Código do texto: T6788525
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