A LENDA DOS UIVOS CANINOS

_ Vovô! Posso fazer duas perguntas?

_ Pode minha, Princesinha! Até mais, se quiser.

_ Então, lá vai uma. O Senhor me chama de princesinha porque me chamo Sarah, ou me chamo assim porque sou uma princesinha?

_ As duas coisas, Sarinha. Qual a segunda pergunta?

_ Aqui... Por que a Punky e a Marie sempre me acordam de noite com esse uivo horrível que mais parece um choro ou agouro?

_ Bem, vamos entender através de uma lenda:

"Conta-se que certa noite, algo terrível aconteceu na floresta.

Uma matilha morava numa gruta, próximo a uma linda cascata. Sua queda d'água preenchia os ares com seu chuá interminável. A relva era sempre verde. O alecrim do campo enchia o ambiente com seu aroma inconfundível. Os lírios, assim como as onze-horas, azaleias, melissinhas, dentes de leão e muitas outras flores silvestres emprestavam um colorido exótico que enriquecia a paisagem.

Os cachorros, como outros bichos de costumes noturnos, dormem preferencialmente durante o dia e à noite mantêm guarda para que sua matilha descanse em segurança até o despertar de mais um dia.

Joli era um cão forte, destemido e muito respeitado por todo seu clã. Seu instinto de líder e altruísmo estoico era sua marca pessoal. Numa bela noite de lua cheia, quando todos repousavam em sua gruta-lar e Joli montava guarda, uma enorme bola de fogo caiu bem próximo a entrada da guta onde sua família repousava.

O fogo se alastrou vorazmente e já tendia a entrar na gruta de Joli. Desesperado, e mais do que depressa, o bravo cão guerreiro correu em direção ao seu lar, a gruta onde seus filhotes dormiam. Não havia nem duas luas que sua ninhada havia nascido e já corria severo risco de morrerem de forma cruel e devastadora.

Joli não pensou duas vezes, saltou brava e heroicamente contra as chamas que já adentravam à gruta. O feno que lhes servia de travesseiro, agora uma chama ardente a consumir sua matilha. Lamentavelmente, Collie, sua amada e mãe de sua prole, não resistiu às queimaduras de segundo e terceiro graus. O mesmo aconteceu com sete dos filhotes. Apenas um cachorrinho sobreviveu àquele sinistro.

Desesperado e sem ter mais o que fazer, enquanto ao longe se ouvia o tanger plangente dos sinos de uma capelinha a anunciar meia-noite, com o coração partido, Joli e sua filhotinha soltaram uivos tristes, num choro incontido pela perda de sua amada Leide e seus filhotes que morreram naquela fatídica noite.

E foi assim que, após a meia-noite, Joli e Laila, sua filhota sobrevivente, lançam seus au-aus de triste canto a preencher os ares, como amarga lembrança de seus queridos que não mais existem, a não ser em suas doridas memórias. Por isso, até hoje, quando se ouvem o lamento, os outros cães em solidariedade, aonde quer que os ouçam, vão replicando quase que indefinidamente melancólicos uivos.

_ Que triste, Vô! _ Comenta Sarinha a fungar e afastar as lágrimas com o dorso das mãos. _ Muito triste! Mas isso é verdade ou coisa inventada? O Senhor e meus pais sempre me ensinaram a não mentir.

_ Certo, Princesinha! É isso mesmo, mas antes de começar eu avisei que se tratava de uma lenda. É uma maneira milenar, de uso popular que o povo utiliza bastante para tentar explicar algo que não tem explicação.

_ Entendi! Essa passa! Rsrsr!

_ E sai dali pulando e tralalando uma musiquinha que acaba de improvisar.

Alelos Esmeraldinus
Enviado por Alelos Esmeraldinus em 31/08/2019
Reeditado em 01/09/2019
Código do texto: T6733782
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