Tirado de um texto perdido em algum lugar

Em certas situações, não era preciso que as pessoas abrissem a boca, pra que eu soubesse exatamente o que elas queriam dizer.

E as vezes o silêncio das pessoas falava muito mais por elas,

do que quando estavam falando.

Eu gastei muito do meu tempo com o nariz enfiado nos textos que outras pessoas haviam escrito,

e vivendo suas histórias dentro da minha cabeça, como forma de me sentir um pouco mais próximo da realidade.

As vidas e as histórias dos outros sempre me pareceram mais vivas do que as minhas próprias experiências,

e tudo sobre mim parecia mais interessante quando eu botava no papel, do que quando estava vivendo.

Eu li muitas coisas que meus amigos andavam escrevendo,

e era uma forma de me sentir menos anormal. Como se a loucura deles também fosse um pouco minha.

E que o desespero e a solidão que sentiam também fizessem parte do que eu vivia no meu dia a dia.

Talvez os tubarões dos pesadelos deles fossem tão violentos quantos os meus,

ou talvez nossos goles e tragos

e transas

nos levassem pros mesmos lugares

como consequência.

Mas a vida segue confusa

e brutal,

de um jeito diferente pra cada um de nós,

e eu acho que não há aguardente no mundo,

ou garrafas de cervejas suficientes,

pra fazer com que eu me sinta em casa,

em qualquer lugar que eu esteja.

Mas quem precisa de um teto,

quando o universo inteiro cabe dentro de um copo americano,

na mesa de um bar,

ou no meio das pernas de uma mulher,

numa boca,

num sorriso,

num silêncio

ou numa paixão

qualquer.

Rômulo Maciel de Moraes Filho
Enviado por Rômulo Maciel de Moraes Filho em 20/08/2019
Reeditado em 20/08/2019
Código do texto: T6724866
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