PÁSSARO DE ESTIMAÇÃO
Eu ganhei um passarinho,
Desde cedo, sim senhor,
Ganhei-o como penhor
Da infância, com mui carinho.
Nasceu fraquinho e pelado,
Pois penas inda não tinha
Mas foi crescendo a pombinha,
Coberta por todo lado.
No começo só dormindo,
Por timidez, encolhida,
Em recato, recolhida,
Qual sem valor se sentindo.
Foi crescendo e aparecendo,
Mas sem palavras, qual muda,
Bem encorpada, transmuda,
Crescendo, fortalecendo.
E já sentindo-se adulta,
Seu par do nada aparece,
Se exibindo, resplandece,
Em paixão voraz, inculta.
Estica e recolhe as asas,
Levanta e abaixa a cabeça,
Qual pombo louco pareça,
A se queimar sobre brasas.
E agora arrulha em seu canto
No ninho, chocando os ovos,
Gerando rebentos novos,
Fruindo dos sonhos o encanto.
Por fim, as cascas rompendo,
Bruguelos vão dando as caras,
Livres das cascas, às claras
Em graça e luz vão crescendo.