TRISTE FIM DE ANTONINO - Tragédia em 8 Atos
Hoje amanheci um tanto quanto sorumbático. Um manto de melancolia me envolvia e o saudosismo tomou conta de mim.
Um inédito arrebol pinta o horizonte, ao nascente inúmeras nubéculas dão o tom e incrível contraste e uma visão inesquecível.
Virtualmente, dirijo-me ao Bosque, nosso parque central com muitas árvores frutíferas e não, para uma boa caminhada. Nisso, uma gélida brisa roça o meu rosto e sussurra no meu ouvido:
_ Luft Wind, vento NE te espera logo acima para um incursão em Onirópolis. Vá lá?
Sem pestanejar, subo no dorso de Luft e, num piscar de olhos, me encontro no Parque dos Sonhos Alados. Quanta paz! Quanta harmonia naquele ecossistema perfeito detalhadamente bem conservado!
Ali, numa bucólica vila, que chamávamos Outro Lado (Hoje, Vila Joaca Rolim), no Distrito de Missão Nova, Município de Missão Velha-CE. Vejo-me na casa de Maria Vinvim a qual carinhosamente chamávamos de Davinvim. Após a aula de catecismo, ela nos brinda com um triste enredo que conta a história de um menino chamado Antonino que acidentalmente matou o pavão do seu professor e temia muito morrer, caso voltasse à escola. Essa tragédia em tom bucólico é narrada conforme um criterioso trabalho de resgate de memória quanto por outros meios citados no final desta publicação.
T R I S T E F I M D E A N T O N I N O
Tragédia em tom bucólico em 8 Atos
(Instrumental
1º Ato
1
Antonino vinha da aula
com quatro pedras na mão (bis)
Atirou num passarinho
e pegou foi no pavão (bis)
(Bridge)
2
Antonino foi em casa,
Para a seu pai contar: (bis)
- Matei o pavão do mestre
Preciso ir lá pagar. (bis)
(Bridge)
3
– Mamãe eu não te conto,
Mamãe eu vou te contar (bis)
Matei o pavão do mestre
não sei como hei de pagar. (bis)
(Bridge)
4
Antonino meu filhinho
como matou o pavão (bis)
– Brincando com minhas pedras
quando voou o pavão (bis)
(Bridge)
5
– Atirei uma pedrinha
o pavão caiu no chão. (bis)
O pássaro já caiu morto,
Era uma vez um pavão. (bis)
(Bridge)
6
_ Antonino vá a Escola,
Tu precisas aprender. (bis)
_ Papai, eu não vou não,
pois, se eu for, eu vou morrer. (bis)
(Bridge)
7
– Antonino deixe disso
Deixe de tanto chorar, (bis)
Tenho bastante dinheiro
Para o pavão pagar. (bis)
(Bridge)
8
– Tenho vinte e cinco liras,
Oito para o pavão, (bis)
Irei à casa do mestre,
Pra pagar a dívida, então. (bis)
(Bridge)
2º Ato
9
– Bom dia, senhor mestre!
Como vai, como passou? (bis)
Vim pagar o seu pavão
que Antonino matou (bis)
(Bridge)
10
– Quanto custa o pavão,
Que o Antonino matou? (bis)
- Seo Antônio, deixa disso!
Que loucura, sim senhor! (bis)
(Bridge)
11
– O pavão não é nada.
Não há nada que pagar (bis)
Quero que diga a Antonino
que amanhã venha estudar (bis)
(Bridge)
3º Ato
12
– Antonino vá à aula,
Não há nada que temer. (bis)
– Papai eu não vou à aula,
Com certeza, vou morrer. (bis)
(Bridge)
13
– Mamãe eu não te digo,
Mamãe eu vou te dizer (bis)
Amanhã eu vou pra aula
sabendo que vou morrer (bis)
(Bridge)
14
– Antonino vá à aula,
Deixa de medo e frescura! (bis)
– Papai, hoje vou à aula
E amanhã na sepultura. (bis)
(Bridge)
4º Ato
15
– Antonino foi à aula
O todo o caminho chorando, (bis)
Chegando à casa do mestre,
Inda estava soluçando. (bis)
(Bridge)
16
– Bom dia senhor mestre!
– Bom dia senhor ladrão! (bis)
Hoje vou fazer contigo
o que fez com meu pavão (bis)
(Bridge)
17
O mestre saiu de dentro,
Seu bracinho ele pegou, (bis)
Tirou um punhal do bolso
A Antonino ele ameaçou. (bis)
(Bridge)
18
O mestre sem mais pensar,
Pelo braço lhe agarrou, (bis)
Tirou seu punhal do bolso
E no peito lhe cravou. (bis)
(Bridge)
19
O mestre matou Antonino,
pô-lo embaixo do colchão. (bis)
A vida de Antonino
vale menos que um pavão? (bis)
(Bridge)
5º Ato
20
– Menino que vem da aula,
dá notícia de Antonino? (bis)
– Antonino ficou preso
com o coração pequenino (bis)
(Bridge)
21
– Abram portas e janelas!
Quem sabe do meu menino? (bis)
– Ó jovem que vens da escola,
tens visto o meu Antonino? (bis)
(Bridge)
6º Ato
22
– Abram portas e janelas
quero ver o meu Antonino? (bis)
Está lá no chão deitado,
morto que nem passarinho. (bis)
(Bridge)
23
– Abram alas, saiam da frente,
Ai meu Deus, que escuridão! (bis)
Mataram meu Antonino
Por causa de um pavão! (bis)
(Bridge)
24
– Abram portas e janelas,
Não posso mais me conter… (bis)
Quero ver meu Antonino
Antes de a terra o comer. (bis)
(Bridge)
7º Ato
25
O pai foi vingar seu filho,
ante o mestre assassino: (bis)
– Agora você me paga
o sangue do meu menino! (bis)
(Bridge)
26
O pai entrou pela sala
com sua pistola na mão (bis)
Atirou no velho mestre
e vigou sua criação (bis)
(Bridge)
27
E, no dia de finados,
Uma coroa ele levou, (bis)
Na faixa, estava escrito:
Saudades de quem ficou. (bis)
(Bridge)
8º Ato
28
Lá vem vindo a polícia,
Para ver quem tem razão, (bis)
Um pai que defende um filho
Não pode morrer na prisão. (bis)
(Bridge)
29
E assim, termina a história
Daquele pobre menino, (bis)
que matou, o pavão do mestre.
Triste fim teve o Antonino. (bis)
(Finalizando...)
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Introdução, bridge e finalização - solos inter estrofes ao piano e orquestra .
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Assim terminava a história tão bem contada e cantada por Davinvim, de saudosa lembrança. No final, praticamente todos estávamos fungando, com os olhos marejados de lágrimas, envolvidos pelo magistral modo com que ela nos contava suas incríveis estórias.
Nesse momento, sou arrebatado por Luft Wind trazendo-me de volta à realidade, ali mesmo, na Academia ao Ar Livre o Bosque, no exato ponto de onde partimos.
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Baseado em minha memória, puxado por um verso desse triste canto que não me saía da cabeça (... agora você me paga o sangue do meu menino). Assim, "en passant" por Onirópolis pude resgatá-lo em parte, mas sabia que faltava muitos pedacinho que iam-me surgindo aqui e ali.
Tentei juntar os pedaços e, de boa valia, o blogspot Caricaturas...
(http://cariricaturas.blogspot.com/2009/09/o-pavao-e-o-mestre-por-maria-amelia.html) me trouxe o que me faltava.
Grato à minha prima Joseísa que carinhosamente é chamada de Maninha, por ter-me indicado o citado site.
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Davinvim era uma octogenária, descendente de pais negros agraciados pela Lei do Sexagenário. Ela mesma não conheceu a escravidão, visto que já nascera sob a Lei do Ventre Livre. Era ela quem cuidava de nossa catequese e nos deleitava com suas inesgotáveis história que tão bem sabia contar.
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História originária da cidade de Santiago de Cacém, Alentejo Portugal, adaptada pelos campônios nordestinos brasileiros e cantada por nossa querida e saudosa Davinvim, como carinhosamente a chamávamos.
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Observação:
Se você deseja cantar na íntegra esta música, ouça então o segundo link,
. Triste fim de Antonino - Tragédia em 8 Atos
mas se quer apenas conhecer a melodia, ouça o primeiro link
. Triste fim de Antonino - Versão Radiofônica.