Quinta Feira
Aquele não era pra ser o meu dia
Mas ela estava ali
com um cigarro na ponta dos dedos
desfilando nua pelo meu quarto
e eu achei que aquele era
um dos tipos mais profundos de nudez
que eu já tinha visto.
Ela me olhava
e me sorria,
com a boca toda vermelha
de um batom
quase que ofensivamente
borrado.
E a chuva seguia caindo
do lado de fora
como se anunciasse o fim do mundo.
mas os bares continuavam lotados
de pessoas tão perdidas quanto eu,
e naquela ocasião
eu sentia
que não havia nada que me separasse
do resto da multidão.
Só havia os olhos dela
bem na minha frente,
queimando como a ponta do cigarro
que ela fumava,
e que me traziam também, a clara impressão
de que eu ia pegar fogo
a cada vez que ela me beijava.