Qual o critério das potências eternas?

Faço da vida um poema mudo

Dos sórdidos e ignóbeis versejares deglutidos e defuntos

Os sorvo como quem morde sem paladar um bolo de castanhas e deixo livremente fluir minhas intenções sem filtro sem voz sem cor sem dor com dor com cor de quem sorve o corte profundo

Fissura

Da largura do peito que mora na alma sem

Alma

E com suas letras compondo uma melodia sem partitura escritas em braile no papel plano

Sigo

Ressigo

Sossego em desasossego

O corpo mole dissolve

Aos poucos no tecer do tempo.

O lábio

Gordo, robusto, rubro, sórdido e insólito

Morde a si mesmo porque não tem a quem morder nas noites de cânhamo e de frio

Não morde o véu até desfaze-lo e destruí-lo todo como que deixando retalhos que desformes se desfazem em cirrus nuvens de pincel de plástico

Escrevo essas palavras como quem pega um lápis e um papel branco no jardim da infância sem frutos sem flores sem cores e com cores desenha arabescos sem regras

E depois derrama tinta e lágrima e restos putrefatos de qualquer coisa

Dobra ao meio

E revela uma borboleta

Não é tão fácil viver. Não é não, menino Carlos.

Deixa eu beijar tua boca amanhã porque hoje dela só vive o

Que cala.

Calo as vezes porque quero. Calo as vezes porque nada mais há do que fazer.

As vezes ouvem o meu silêncio.

Outras, falam-me

Tenho mais dez mil páginas para ler e me desencanto por já ter mentido algumas vezes essa semana. Por ter parido hipérboles, condores e faltas.

Degluto devagar a raiva. Ela se não mostra.

Abro devagar uma ferida congesta no ombro direito. Ela derrete em lágrimas que se foram ódio.

Meu coração silencia a ânsia.

Pulsa o medo (abro um vale em meu dedo do pé por onde escorre)

Sou eu menos que você

Quem é você? Que seria se fosse mais que eu?

Interpretar gráficos? Guardar memorandos dos preceitos e conceitos e intentos que consumados moldaram a massa despropositada do fenômeno-planeta e

Aonde queres chegar com isso?

Quantas notícias de jornal e maestria retórica e estúpida lucidez de espírito se me fazem distante deste corpo que se abre nu sobre mim e cospe um gozo floemático e leitoso?

Fujo

Montado nas palavras que não proferi

(E se as tivesse dito, quantos passos a frente do nada estaria?)

E para elas sim me desnudo.

Talvez seja menos. Talvez seja mais. Talvez seja

Apenas.

Nicolle Ramponi
Enviado por Nicolle Ramponi em 11/06/2019
Reeditado em 31/07/2019
Código do texto: T6670621
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