Abraço
Acordei de sobressalto. Fiquei um tempo paralisado, com a cabeça afundada no travesseiro, tentando puxar pela memória o que eu havia sonhado há pouco. Mas a única coisa que eu conseguia me lembrar era dos olhos e do sorriso de Rafa, quando nos abraçamos e Alice se mexeu em sua barriga. Foi como se as duas estivessem tentando me dizer que tudo ia ficar bem. Mas a verdade é que nada estava certo na minha vida. Nada estava no lugar. Tudo o que eu tinha era aquela solidão de volta. Materializada na minha pele como se fosse uma tatuagem. Dava pra ver a vida passando do lado de fora, pela brecha da minha janela, mas ainda assim tudo me parecia artificial de uma forma quase impossível de explicar.
Desperdicei boa parte de uma tarde olhando para a borra de café em uma caneca esperando que minha paz de espírito voltasse. Mas a porta do meu apartamento continuava fechada, e as minhas cortinas continuavam desafiando o sol e tornando os dias quase indistinguíveis das noites.
Resolvi abrir a janela pra ver se alguma brisa entrava em casa e levava consigo o abafado e todo aquele cheiro de poeira e morte que eu havia deixado acumular.
O Sol trouxe algum calor de volta para dentro de mim. Como o sorriso no meio do meu sonho...
Voltei para o computador e para as páginas em branco com as quais eu vinha lutando. A derrota agora já não parecia tão certa.
Sentei-me e me pus a escrever.