Inverno
Quando ela saiu pela porta do meu apartamento sem sequer olhar para trás, eu perdi alguns livros e o meu gosto por dias chuvosos. Os livros que haviam ficado com ela, eu nunca tive coragem de pedir de volta, por medo que viessem carregados com o seu cheiro e com os riscos e pequenos poemas que ela costumava escrever pelos cantos das páginas.
Quanto aos dias de chuva, o engraçado é que são justamente esses que me vêm à memória quando me lembro dela. Talvez toda a nossa relação possa ser definida por nossos dias debaixo das cobertas. De forma que hoje, quando chove, eu me pego macambúzio e tristonho, ruminando nossas memórias.
Mesmo que eu tenha jogado os lençóis fora e trocado meus travesseiros. Mesmo que eu tenha deixado os livros para lá e batido a porta quando ela saiu.
Todo ano tem inverno. E todo ano eu me arrependo de ter me desfeito das cobertas