Ocre
com palavras ou gestos componho a mim mesmo
não sei se falta uma certa afoiteza para colocar em verbo
repentinamente quando me permito focar no prazer dessa paixão singular, vejo
um olhar vago
que surpreendentemente se encaixa com o meu
apenas no momento livre do espaço e tempo presente
como dizer, com palavras...
essa explosão e precisão do que é sentir a firmeza do amor na palma das mãos
no cair das folhas secas, no cheiro de queimado vindo de um quarto, cheiro de madeira nos cabelos, cheiro alucinógeno nuvem ocre flama contínua volúpia intensa
úmido é o meu céu só de pensar, o toque mais acurado e a dúvida crucial pelos cantos dos quartos cantos de pedras cantos do chão cantos do mundo
teias de aranha, manjericão, uivo, varais e criaturas daquelas guardiãs pairando por entre lagos e rios densos, gemidos e orgasmos saindo de um musgo infindável que se deleita por todo meu corpo fazendo-me desconhecer as leis de uma gravidade questionável.
e tudo se resume enfim em
esperar
estremecer e estar viva em uma melodia sem fim
na luz do por sol que nunca se acaba