Ocre

com palavras ou gestos componho a mim mesmo

não sei se falta uma certa afoiteza para colocar em verbo

repentinamente quando me permito focar no prazer dessa paixão singular, vejo

um olhar vago

que surpreendentemente se encaixa com o meu

apenas no momento livre do espaço e tempo presente

como dizer, com palavras...

essa explosão e precisão do que é sentir a firmeza do amor na palma das mãos

no cair das folhas secas, no cheiro de queimado vindo de um quarto, cheiro de madeira nos cabelos, cheiro alucinógeno nuvem ocre flama contínua volúpia intensa

úmido é o meu céu só de pensar, o toque mais acurado e a dúvida crucial pelos cantos dos quartos cantos de pedras cantos do chão cantos do mundo

teias de aranha, manjericão, uivo, varais e criaturas daquelas guardiãs pairando por entre lagos e rios densos, gemidos e orgasmos saindo de um musgo infindável que se deleita por todo meu corpo fazendo-me desconhecer as leis de uma gravidade questionável.

e tudo se resume enfim em

esperar

estremecer e estar viva em uma melodia sem fim

na luz do por sol que nunca se acaba

Gabi Batoni
Enviado por Gabi Batoni em 29/01/2019
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