Dezembro
Raposa acordou cansada como se sequer houvesse dormido e logo que se sentou na cama, sentiu-se enjoada e correu para o banheiro.
Ficou quase 10 minutos encarando o vaso sanitário sem conseguir vomitar, e se conformou em tomar um banho gelado para tentar espantar a ressaca.
Esperou que a água levasse também os pensamentos que não queria ter, e que ainda assim lhe povoavam a cabeça e que podiam ser tão insuportáveis quanto suas enxaquecas.
Fechou o chuveiro quando seus dedos já estavam engilhados. Enxugou-se displicentemente e foi até o espelho para tentar retirar o resto da maquiagem dos olhos.
Foi quando deu de cara om seu reflexo e não conseguiu evitar de se perguntar por que estava fazendo aquilo tudo consigo mesma.
Olhou para os seus olhos refletidos no espelho e sussurou.
- Eu vou morrer daqui para dezembro...
Mas ainda era Março,
E ela sentia que poderia nem sequer chegar lá, em sua fuga de si mesma,
acelerada... sem freio.
Perdendo-se nas bocas e nos corpos de pessoas
que as vezes sequer sabia o nome.
E o pior é que a cada gole de cachaça ou de cerveja,
ela se sentia escorrendo por um ralo existencial, onde seus sentidos se confundiam
e os dias se tornavam noites, e as noites madrugadas,
e as manhãs eram sempre de pura ressaca e de vez em quando, de arrependimento e lágrimas.
Mas estava cansada de chorar e ainda mais cansada de não ter respostas para as perguntas que se fazia.
Queria uma embriaguez perpétua,
ou que Dezembro chegasse logo.