FELTRO & SEDA *

A caixinha forrada em feltro,

Escavada numa velha Bíblia,

Continha bala de framboesa.

Toda caixa dizia-me "eu te amo".

A bala permanecia intocada.

Framboesa doce e azeda.

Mas a vida agiu assim, de modo filtro;

Desencravada do deserto da Líbia

A bala certeira na certeza...

Toda caixa disse-me "Você, insano,

Dessa caixa não tirou nada".

Antes o forro fosse em seda...

Um rato roeu a caixa,

Prestou-me grande favor,

Posto que no arquivo dei baixa,

Não há sequer traço desse amor.

NOTA*: Pretendo adotar tal forma em futuros poemas: terceto seguido de dístico e verso único, repetição da forma e conclusão em quadra não perfeita. Não sei como chamar essa forma, aceito sugestão.

Camilo Jose de Lima Cabral
Enviado por Camilo Jose de Lima Cabral em 26/10/2018
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