FELTRO & SEDA *
A caixinha forrada em feltro,
Escavada numa velha Bíblia,
Continha bala de framboesa.
Toda caixa dizia-me "eu te amo".
A bala permanecia intocada.
Framboesa doce e azeda.
Mas a vida agiu assim, de modo filtro;
Desencravada do deserto da Líbia
A bala certeira na certeza...
Toda caixa disse-me "Você, insano,
Dessa caixa não tirou nada".
Antes o forro fosse em seda...
Um rato roeu a caixa,
Prestou-me grande favor,
Posto que no arquivo dei baixa,
Não há sequer traço desse amor.
NOTA*: Pretendo adotar tal forma em futuros poemas: terceto seguido de dístico e verso único, repetição da forma e conclusão em quadra não perfeita. Não sei como chamar essa forma, aceito sugestão.