Peregrino
Entre matas pedras nuvens
Caminha rumo ao desconhecido
Tão conhecido
dentro da memória de teu corpo
Desperta as lembranças de um passado remoto, um tempo vivido e esquecido, aos poucos lembrado.
E lá vai o menino
Nobre peregrino
Entre trilhos pontes avenidas
Pisando em solo fértil,
Regando a terra com seu suor,
regendo orquestras imaginárias
Carregando em seus joelhos toda dor que traz a vida
E lá vai
O nobre peregrino
Entre rios mar e céus
Despede de seus pés e tão logo abre asas de garças arcanjos querubins
Sua graça é pura mas sua pureza já não tão inocente
Pobre peregrino
Que já descalço caminhou entre cascalhos, desenhando em sua sola murmúrios e permanências
Pés que calçam calos.
Tão nobre peregrino
Que ja viu de quase um tudo
Sem sair de casa. Sem sair do corpo.
Pois ali ele permanece,
Porém não se pertence.
Entre circos trapézios e acrobacias
Por vezes pendurado
Por vezes a beira de precipícios
Um pouco poesia de pano
Coração de bobo que bate manso
Mas logo sai pela boca
E as mãos desnudas seguram um órgão pulsante e vivo
Engole coração.
E entre flautas pandeiros bandolins
Lá vai ele
Peregrino de mil sonhos
Sua senda é cigana
Seu destino incerto
E seus medos triviais.
Entre cambalhotas capoeira e mandingas
Todo dia anarquia
Todo dia é dia
De mudar o mundo
Fazer revolução
No pequeno ato de um singelo passo.
Anarquia.
Entre caatingas cantigas e pantanais
Caminha peregrino
Junto a essa fé exagerada em coisas que mal enxerga
Caminha menino
Dentre as macrófitas de seus brejos
Caminha lento, caminha azul
Observando detalhado as cores e os aromas que exalam a natureza
Escutando cochichos e segredos,
O oculto se desvendando
A janela aberta, O sol brilhando
Enquanto os olhos se fecham e os pés nus continuam caminhando
Entre liberdades e precipícios
Lá vai o peregrino ...
Seus tornozelos trazem fios de esperança
Por onde passa deixa rastros de estrelas ...
É lá vai o peregrino.