Esteticamente Fora do Lugar

Eu abdico da minha abstinência abstrata.

E desejo o que não pode existir e o tomo como meu.

Eu cometo o adultério num relacionamento de um só.

E sou fiel àquele que não me encanta.

Eu agrego desacordo ao templo dos desafetos.

E sou a pessoa que contraria o platô psicológico e desejo o abismo da calmaria.

Eu sou a discórdia que tenta habitar o lar da placidez autômata.

E robotizo a sintonia da plenitude comum como forma de diversão.

Eu crio ambiguidade onde só pode existir um.

E unifico o que não pode ser congregado.

Eu vejo com exatidão um pensamento amorfo.

E não sinto a forma exata diante dos meus olhos surdos.

Eu crio uma analogia do que não pode ser comparado.

E emulo aquilo que nunca existiu.

Eu banalizo a complexidade efêmera.

E eternizo a banalidade transiente.

Eu faço discursos beligerantes em tempos de paz ôca.

E apeteço uma mente serena enquanto estou ferido.

Eu lidero o caminho que não teve início e nem terá um fim.

E me perco no horizonte invertido.

Eu tenho uma força inigualavelmente copiável.

E copio as mais simples fraquezas pra exercer os meus músculos.

Eu pinto de transparente a barreira psicológica imposta pelo desprezo sombrio.

E agradeço pela tentativa de descolorirem o meu lado negativo.

Eu abro a janela da felicidade.

E obstaculizo de maneira errática a entrada da luz que não tem som.

Eu oximorizo a incongruência.

E faço iguais as partes idênticas.

Eu sou você.

Seja-me.

Giuliano Coutinho
Enviado por Giuliano Coutinho em 23/08/2018
Reeditado em 23/08/2018
Código do texto: T6427646
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2018. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.