Esteticamente Fora do Lugar
Eu abdico da minha abstinência abstrata.
E desejo o que não pode existir e o tomo como meu.
Eu cometo o adultério num relacionamento de um só.
E sou fiel àquele que não me encanta.
Eu agrego desacordo ao templo dos desafetos.
E sou a pessoa que contraria o platô psicológico e desejo o abismo da calmaria.
Eu sou a discórdia que tenta habitar o lar da placidez autômata.
E robotizo a sintonia da plenitude comum como forma de diversão.
Eu crio ambiguidade onde só pode existir um.
E unifico o que não pode ser congregado.
Eu vejo com exatidão um pensamento amorfo.
E não sinto a forma exata diante dos meus olhos surdos.
Eu crio uma analogia do que não pode ser comparado.
E emulo aquilo que nunca existiu.
Eu banalizo a complexidade efêmera.
E eternizo a banalidade transiente.
Eu faço discursos beligerantes em tempos de paz ôca.
E apeteço uma mente serena enquanto estou ferido.
Eu lidero o caminho que não teve início e nem terá um fim.
E me perco no horizonte invertido.
Eu tenho uma força inigualavelmente copiável.
E copio as mais simples fraquezas pra exercer os meus músculos.
Eu pinto de transparente a barreira psicológica imposta pelo desprezo sombrio.
E agradeço pela tentativa de descolorirem o meu lado negativo.
Eu abro a janela da felicidade.
E obstaculizo de maneira errática a entrada da luz que não tem som.
Eu oximorizo a incongruência.
E faço iguais as partes idênticas.
Eu sou você.
Seja-me.