Oraculoco

Meu oráculo são os loucos, os mortos, os tortos.

Traça-lhe caminhos sob as trincheiras do universo

Rasga-se as vestes da ilusão;

Rega-se o solo que cobre o chão;

São práticas tão enaltecedoras das mãos que cuidam,

Que fazem brotar novas vidas.

Carne. Vida. Matéria. Morte.

Meus oráculos são os velhos, as crianças , e os mendigos

Quero poder ser como o Bobo, que sem medo caminha rumo à precipícios, pois sabe que se cair as asas de sua liberdade irão lhe resguardar.

Pousarás então como pássaros pousam em grandes e pequenas árvores, e dali cairás o fruto maduro, guardando o conhecimento que pode ser revelado em uma única mordida.

Nasce o pecado santo,

cobre-se com um manto,

desata ilusões e fantasias.

E a alma pode enfim se despir do corpo,

Meu oráculo são as cartas, os peixes, os búzios, e os curingas 

E no breve tilintar de guizos ouço chegar

Os palhaços loucos arlequins e alegrias

com toda magia e filosofia

Revelando uma consciência não dita e esquecida, Lembram-nos em largos risos frouxos sobre o mundo, questionando as verdades, dando dúvidas às respostas e revirando tudo aos avessos. Os gritos e os versos.

Sacode louco! Sacode mais um pouco!

A vida breve e carnal

Como um eterno carnaval 

O que seria o pecado se não uma desobediência litúrgica ?

Esse corpo pagão faz tremer terras e defuntos. Cultiva o fruto, a colheita e o alimento.

Essa carne sólida que alimenta a terra é o mesmo que peca, que soa, que sua, que goza, chora e vira rio. 

Meu oráculo é a água doce, a terra farta, o fogo crepitante e o vento andarilho

Lírio Gita
Enviado por Lírio Gita em 17/08/2018
Reeditado em 20/09/2021
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