Encantosia #069: Pura Dismorfofobia

Quando era um garoto entre 3 e 5 anos de idade, era era muito esperto e falava pelos cotovelos. Tinha uma memória fotográfica e aprendia com rapidez de relâmpago. Era o xodó dos meus tios, pois se divertiam em me perguntar o que me ensinavam e eu prontamente respondia com exatidão, tudo o que eles prazeirosamente me ensinavam, fossem capitais dos estados brasileiros e alguns países americanos ou europeus, fosse lições de latim, inglês e francês. Poderia nem saber o que estava dizendo, mas falava como papagaio palrador. Sabia tudo na ponta da língua. Aos cinco anos já sabia ler e escrever.

Isso despertava muito ciúme e rixa entre a primarada que fazia de tudo para me desqualificar. Irritavam-me ao pode de eu revidar e isso era o que eles queriam pois enredavam de mim e tinham maior prazer em ver-me apanhando, só que tudo fora por eles provocado. Daí, todos, tios e primos me chamavam de feio e faziam coro assim me chamando. De tanto ouvir isso, me convenci que, de fato, eu era horroroso. Um monstro.

Uma poderosa e malévola desconstrução de personalidade que praticamente me reduziu a um nadésimo de nada.

Por mais que as meninas me chamassem de lindo, nunca me convenciam disso. Passava um tempão diante do espelho inventando mil e um defeitos para me convencer de que realmente eu era a própria feiura em pessoa.

Depois que comecei a namorar, esse complexo de feiura, ou seja, dismorfofobia, foi aos poucos diminuindo e minha namorada, depois noiva e finalmente minha esposa me convenceu de que eu sempre estivera enganado ao meu respeito.

Hoje me tolero e acredito que eu seja bonito, não ao meus olhos, mas à vista das outras pessoas que são muito generosas ao me dar esse aval de beleza que ainda acho que não tenho.

Nesta manhã, num programa televisivo matutino, debatiam sobre esse assunto e, durante o tal programa, inspirei-me no poema a seguir.

PURA DISMORFOFOBIA

Algum pavor sempre assusta…

Sei que há tanto de fobia,

De alguma coisa, tem medo

E disso, não há segredo.

Vem rouba toda alegria

Qual se fosse à revelia

Ataca-nos tarde ou cedo.

Alguns têm egofobia,

Um tal medo de si próprio,

Ser vivo inumado, impróprio;

Isto é a tal tafofobia.

Se, para dormir, se treme,

Hipnofobia é o nome,

Se ficar só, lhe consome,

Claustrofobia se teme,

Não é caso de mero meme…

A coragem logo some.

Se lhe assalta a nostalgia,

Lhe dizem logo: “É saudade”,

Medo da felicidade?

Derrotismo ou analgia.

Mas, desgostar sua aparência,

Pura dismorfofobia.

***

By: BOSCO ESMERALDO

Alelos Esmeraldinus
Enviado por Alelos Esmeraldinus em 13/03/2018
Reeditado em 14/03/2018
Código do texto: T6278798
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