Encantosia #043: VIVÊNCIA EM TRÊS ATOS
No princípio, eu era um nada...
Certa noite bem longíqua,
Descomunal concorrência,
Ínfimas partes, a essência,
Dom sobrenatural,
Mas de modo natural,
Trazem-me à existência.
Três meses de experiência,
Enjoos e até desmaio,
Talvez, da vida, o ensaio.
Venci só pela persistência.
E assim foi que fui gestado.
Não mais nada, um pouco tudo,
Do informe, me fiz em forma,
No ventre, terno ser torna,
Rejeição, revés, contudo,
Gestação sus, sobretudo.
Pró bebê, tudo contorna.
Ao cabo, no tempo certo,
Expulso do ventre, o rebento,
Dà-se à luz, filho a contento.
Amor, zelo assaz por perto.
A infância, eis o primeiro ato.
O segundo, é a quintessência,
Do ser, vital fundamento,
Do limiar, transportamento
Cabal fortalecimento,
Crucial adolescência,
Passe pro adulto, é exigência
Para o amadurecimento.
É dever, é cláusula pétrea
De quem por aqui já passou,
Palmilhou, vivenciou,
Mostrar a senda das pedras.
Com êxito ao terceiro ato.
Crescendo, se formou, fez-se adulto,
Estudou, casou, construiu casa,
Fez filhos, Família embasa,
Árvore de amor, o vulto,
Ao Pai Supremo, seu culto.
Nada há mais que se compraza.
No terço final da vida,
Satisfeito, realizado,
Colhe os frutos, regalado,
Anos se apõem em sobrevida.
Fim deste ato, o bilhete,
É só de ida, a partida.