desafogo
Jazo em aperto desesperado.
Sem espaço, sem abraço, em anóxia e engolfada pelo mais profundo dos sentimentos límpidos e translúcidos de escuridão.
Não tenho onde segurar-me, porque nada criei.
Esvaiu-se de minh'alma o sopro essencial da gênese.
Das minhas mãos não mais materializa-se o doce sibilar etéreo da criação.
Meus pensamentos inventivos desmoronam tão logo ousam tocar com sutileza os artelhos no plano terreno.
Envergonhados espiculam um fio verde para o alto em busca do Sol mas no sol se desfazem em pó e tédio e vazio.
E do vazio se enchem.
E enchem o Universo e a existência e toda a completude do Ser de vazio.
Minh'alma se prostra e dissolve nessa eterna crepuscular escuridão fria em perpétua morosidade.
Fica a matéria de pura matéria, isenta de desejos, vaga, imprecisa, sedenta e faminta, que já não sabe usufruir do regozijo em contemplar-se o dourado celestial e os sabores frutíferos e selvagens e doces (que se entrelaçam para tornar Una toda a distinção de corpos).
Não sabe, essa pobre morada-de-ninguém, guiar-se em meio à dança de curvas e rugas na Esfera das cores.
Me perdi dentro de mim, e morri em vida antes mesmo de me encontrar.
Corpo de alma vazia.
Sem luz, sem sol e sem guia.
Perdido, sem direção por onde deambular.
Oscila, tropeça e se desfaz a cada dia.
À espera, inflexível e perene, pela Redenção final.