desafogo

Jazo em aperto desesperado.

Sem espaço, sem abraço, em anóxia e engolfada pelo mais profundo dos sentimentos límpidos e translúcidos de escuridão.

Não tenho onde segurar-me, porque nada criei.

Esvaiu-se de minh'alma o sopro essencial da gênese.

Das minhas mãos não mais materializa-se o doce sibilar etéreo da criação.

Meus pensamentos inventivos desmoronam tão logo ousam tocar com sutileza os artelhos no plano terreno.

Envergonhados espiculam um fio verde para o alto em busca do Sol mas no sol se desfazem em pó e tédio e vazio.

E do vazio se enchem.

E enchem o Universo e a existência e toda a completude do Ser de vazio.

Minh'alma se prostra e dissolve nessa eterna crepuscular escuridão fria em perpétua morosidade.

Fica a matéria de pura matéria, isenta de desejos, vaga, imprecisa, sedenta e faminta, que já não sabe usufruir do regozijo em contemplar-se o dourado celestial e os sabores frutíferos e selvagens e doces (que se entrelaçam para tornar Una toda a distinção de corpos).

Não sabe, essa pobre morada-de-ninguém, guiar-se em meio à dança de curvas e rugas na Esfera das cores.

Me perdi dentro de mim, e morri em vida antes mesmo de me encontrar.

Corpo de alma vazia.

Sem luz, sem sol e sem guia.

Perdido, sem direção por onde deambular.

Oscila, tropeça e se desfaz a cada dia.

À espera, inflexível e perene, pela Redenção final.

Nicolle Ramponi
Enviado por Nicolle Ramponi em 30/08/2017
Reeditado em 30/08/2017
Código do texto: T6099747
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