méter polis
Vivo sozinha. Dentro de uma selva. Uma genuína selva, plena de selvageria humana capitavocrata. Mãe insolente de infinitos animais-essenciais paupérrimos.
Existo em plenitude devastadora nesse vazio da vida desgostosa infinita, num oceano completo derramado em firmamento de postes animados que escorrem sentimentos, lágrimas e leite desnudo de alento. Nesse pântano cálido e grande demais para a ausência de acurácia espiritual que o habita.
Estancio-me nessa mãe enriquecida com o metal e a alma roubados dos filhos que serpenteiam sem rumo pelas ruas serpiginosas de sangue cinza e duro. Sem lástima e compaixão. Sóbria de morte e ébria de hedonismo puro, licor denso rubro no cálice da vida efêmera, que erige-se na crosta podre da matéria eterna. Essa mãe que rejubila-se em contemplar a escuridão do céu sem sol e das bocas sob os pés cansados caladas por estrume e lixo e gente.
Aqui vivo sozinha. Em alvo templo erguido de cansaço, desprazer e fome. Distante doze mil vidas de qualquer peito aberto, de todo ombro-mundo. Sem cobertor, sem chinelos. Meus pulmões já não inspiram mais paz: perpetuaram-se eles na avidez voraz de um ar que não existe, que morreu e enterrou a si mesmo sob as raízes da última flor amarela que nesse instante morreu de medo.
E que agora escorre para os esgotos.