Abismo

Junho sempre foi um mês de ansiedade para mim, desde a infância.

Logo de cara, era meu aniversário, e depois vinha o São João e as férias. Era uma época engraçada, quando eu só tinha que me preocupar com que presente eu ia ganhar – quando ganhava – e em passar por média na escola. Hoje eu sinto inveja de mim mesmo de anos atrás.

A cada ano que se acumula nas minhas costas eu sinto que meus objetivos finais ficam mais distantes e intangíveis...

Melancolia e nostalgia... tudo o que um homem não precisa no próprio aniversário. Mas era assim que eu me sinto hoje, e eu já passei do ponto que eu ainda tentava fingir para as pessoas que eu estava bem.

Fodam-se as pessoas em geral. Salvando-se apenas algumas em particular.

O último ano foi, com toda certeza, o pior da minha vida. De perdas familiares a decepções amorosas e incertezas profissionais.

Sendo quase impossível lidar com isso tudo sobriamente e racionalmente, como era o meu costume. Embriaguez e emoção tomaram os seu lugares completamente.

Pouca gente sabe, mas um em cada vinte e cinco pessoas são sociopatas. Eu dei a sorte de me apaixonar e ter uma relação de mais de dois anos com uma. Só depois de muito tempo que descobri a quantidade de mentiras e manipulações as quais eu estive submetido.

Acredito que eu seja uma pessoa vulnerável a esse tipo de coisa, por que eu parto do principio de que todo mundo merece algum grau de confiança automaticamente. E quando eu me apaixono, não sei ter nada menos do que confiança absoluta por quem está comigo.

Essa confiança gratuita pode parecer algo idiótico e infantil, mas para mim era natural... ainda é natural de alguma forma. Mesmo que eu me sinta destruído demais internamente para confiar novamente em alguém, algo dentro de mim anseia pela possibilidade de fazê-lo novamente.

E para um cara crédulo ingênuo como eu mesmo, descobrir que um relacionamento de dois anos foi uma completa mentira, cheio de traições das mais rasteiras, terminou sendo o empurrão que eu precisava para seguir direto para o fundo do poço.

Puta que pariu... só a lembrança dos fatos me fazem embrulhar o estomago. Me deixam enojado e fazem com que eu me sinta sujo. Mesmo que a sujeira não tenha sido minha. O pior é que a referida pessoa é incapaz de se sentir culpada por tudo que fez e segue em seu metiê de fazer outras pessoas de idiotas e de brincar com a vida dos outros.

Eu não imaginava que pessoas assim realmente existissem. Eu sempre achei que fosse coisa de novela. Coisa de roteiros mal elaborados polarizados entre o bem e o mal. Não achei que alguém fosse capaz de dormir tendo sido tão cruel e violenta com as emoções dos outros.

Não sabia que alguém fosse capaz de fingir amar, de chorar, de sorrir, de declarar amor eterno, de beijar, de transar, de fazer amor, de fuder, tudo com base em mentiras... e de uma forma natural e corriqueira.

No fim, a única coisa que eu consigo sentir é culpa. Culpa por ter acreditado e deixado alguém entrar assim na minha vida.

Mais um ano passando e eu caindo nesse tipo de cilada.

Paro para pensar sobre tudo completamente envolto em cansaço e derrotismo e me sinto impotente, descontrolado.

Sinto que resta cada vez menos do garoto que ia dormir ansioso pelo primeiro dia de junho,

Por mais um ano... Por mais um passo em direção aos próprios sonhos.

Rômulo Maciel de Moraes Filho
Enviado por Rômulo Maciel de Moraes Filho em 01/06/2017
Código do texto: T6015597
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