Só mais uma deprê
Eu devia voltar para aquele mesmo EU de dois anos atrás,
acho que sorria mais e era menos cínico.
Talvez fosse um sorriso idiota, e o cinismo de hoje não me caia tão mal.
Mas algo em mim era mais vivo,
meus textos, mesmo tão cinzas quanto os de hoje, brilhavam em seu monocromatismo.
Eu era uma metralhadora de palavras e meus sentimentos iam tomando formas que hoje não consigo dá-los, em verso, ou prosa.
Puta merda, o que foi que perdi no caminho de lá pra cá?
Esses dois anos parecem duas toneladas nas minhas costas.
As vezes eu me tranco no meu quarto e fico contemplando minha solidão.
Até ela perdeu a poesia, perdeu vida. Antes eu me embriagava, devorava livros e jogava minhas dores e angústias no papel. Hoje, me embriago de frivolidades na internet, ou mato tempo com jogos. Não consigo sequer ler duas páginas seguidas de um livro, seja ele bom ou ruim. O que foi que me aconteceu nesses dois anos?
Será que estou doente? Será que me esterilizaram?
Não vejo explicação, só vejo estupidez do lado de fora, e um desejo cada vez maior de estar só,
de me trancafiar dentro de mim mesmo.
Ah. Mas os sorrisos são necessários. É necessário que eu interprete um papel e viva uma vida convencional porta afora.
Por isso vou me bipartindo cada vez mais,
e meus dois lados vão se segregando até que me sinto duas pessoas completamente diferentes. Um alienígena para o outro.
Realmente... eu devia voltar para o meu eu de dois anos atrás,
ou de antes.
Era tudo mais simples.
tudo mais fácil.