POEMA MINEIRO

POEMA MINEIRO

O divino Eu, dono de minhas

comedias,tramas e poemas,

com seu dom de cancioneiro,

canta em verso e prosa

uma mensagem para sua cartomante,

amante...

A canção trágica da megera

numa noite de verão.

No profundo dos meus sonhos

deu se um urro

no poema de meu desassossego.

A carta do bem e do mal

que o diabo pregara de seu púlpito

a injustiça e a tempestade.

Na cidade canto as serras

que nos cercam,

uma canção que caminha

entre rebanhos de ovelhas e carneiros

no mercado central.

Sem segredo meus amores perdidos

nas memórias da esfinge do índio do Acaiaca.

Entre as mãos escorregadias dos meus poemas

a luva grita de um canto o inverno e

o congo em sua poderosa crença

bate suas caixas de couro de cabras,

cantam e dançam sob as luzes dos Arturos.

Metamorfoses de meu rei,

minhas causas e segredos,

meus poemas por nada.

No caldeirão do inferno vejo um barco

que segue rumo ao

cancioneiro mineiro que

canta as suas anarquias sobre

as damas e meretrizes nos

poemas da praça sete e no mirante.

É Adão é Eva é a moreninha, domestica

Do bairro Floresta que deflorei

e agora anda sorrindo de chinelas de pelica

dentro do apto de patroa.

As senhoras alegres da guaicurus,

seus algozes que não são vitimas

de Iracema da Jacui, pois

quem esta em sua mão não usa luvas

para o eu Ricardo tirar.

Das voltas que dou por Beaga, vou

sem carteira ou dinheiro, vejo o

ultimo fausto primeiro e falso

á escravizar sua senhora que

fez de suas memórias a mensageira.

As rosas e as mulheres para mim,

são verdadeiros sonetos,

Fausta, Iracema, Rochelle.

Sim sou eu, Ricardo reis que veste

suas saias.

Mulheres que pagam com

a vida sua liberdade nas casas e ruas.

Encantadora alma que geme

ao som do piano inglês.

Em suas notas de esperança

vejo a chave da igreja do Eu.....

eu que nada sou

das primaveras desejadas,

dos poemas da segunda vida.

O ser homem tão alienado dança

na medida do cavalheiro vestido de couro, pois

na alma de Lazaro a medida da vida eterna vê

em sua causa a divina alegria e do

crime uma astucia do inferno.

Uma noite no boteco,

póstumas memórias do não me toque.

Saias seletas do amor a perdição,

Do pai e da mãe num cortiço dando vivas

ao rei abolicionista.

As canoas antes perdidas no cais de Pirapora,

o melhor livro que li entre as carrancas do Chico.

As relíquias de minha Helena

paixão platônica de meu ser,

seu amor de perdição e o

Interlúdio de um trama

para consumir esta carne morena.

O prumo baixo do rio das velhas que segue

como rainha viúva aonde

um navio de papel voa

na eterna magia que margeia

as cartas de desamor e ciúme.

No samba do exílio canto

as almas agradecidas da outrora Bonfim.

São cânticos efêmeros e anedotas

sobre balas de estanho.

Dez minutos ando coma mulher de branco

numa charneca colorida na Serra Capivari.

Memórias de um parasita que toca

nas utopias de Lucia.

E o galo canta entre espumas

de uma ama molhada de cachaça

que no espelho consome sua carne que chora

como não se sabe porque.

Antes da missa o fantasma de Leocádia

vaga sobre as águas de um rio sujo.

A carta de uma mulher pálida

grita a saudade de guerrear

entre cânticos e redondilhas

as lamurias de um homem outrora viril

hoje Candido.

Vai Carolina, vai ver seu triste fim

num ultimo recital de antológicas canções.

Alienada juventude de poesias inquietas,

que nas danças com lobos ouvem uivos ao norte

da cidade e em suas bocas dentes, ossos e nervos quebrados.

Diário de uma menina sem casa,

Historias, farsas da fadas,

Beijos em um saci que fuma

Um cachimbo de lata.

Eleitas dos poemas infelizes,

confições nas bodas de prata,

livros vindos no navio negreiro e

orgias aos vinte anos.

Uma bela mulher negra

chama me ao seu apartamento.

Mostra me relíquias antigas de seu povo

sem consenso de seu deus e

sua alma se alegra diante de minha evolução.

Peço pensão em sua casa de campo

coisas que eu sei e ela sabe

sobre cantos da velha estirpe de Angola.

Sou homem Ulisses

de varias historias contadas

nas boas horas do amanhã.

Elixir de uma longa vida,

em meus braços carrego minha poética

que prego na cruz quebrada.

Divida com a vida a divida com a divida.

Rochas venenosas irônicas e sarcásticas

de um deus ébano que cavalga na via lacta e que canta;

Vozes da África vozes das gerais. Vozes......