Auto-tortura

A ausência dela me corroía.

mas eu continuava em minha tortura

auto infligida.

Com o tempo, confesso que as horas iam perdendo o sentido para mim.

tanto fazia,

noite ou dia,

Eu não tinha sono da maneira convencional

se eu fechava os olhos era por cansaço ou desespero.

O vinho ia entrando e o álcool se esvaia pelos meus poros,

impossibilitando uma embriaguez "sadia" dos meus sentidos,

Um delírio aqui e outro acolá,

palavras se acumulando desordenadamente em textos incompreensíveis.

espelhados em páginas aleatórias devoradas, de livros já lidos...

essa rotina era repetida dia após dia

e a ausência dela continuava,

me corroendo.

Que belo idiota eu sou,

nem sofrer de um modo adequado eu consigo,

termino sendo piegas e anacrônico,

sem a mínima criatividade.

Sem tirar nada de bom disso.

Antigamente eu até conseguia escrever alguns sonetos decentes,

hoje só produzo páginas indecentes, cheias de vulgaridades e histórias repetidas...

E tudo isso pra quê? e por que?

Ja já ela me esquece e me adiciona ao rol de paixões perdidas,

guardando um rancorzinho saudável.

E o que eu vou fazer depois disso?

Continuar lamentando pra fazer jus ao dramático que sempre fui.

As vezes um cara tem que reconhecer que tá fudido e levantar os braços...

Uma rendição honrada,

Mas eu não me rendo,

por enquanto...

Não enquanto meu fígado suportar mais uma bebida,

e meu estômago não me ameaçar a botar tudo pra fora.

Não enquanto meu coração ainda aguentar mais uma porrada ou outra, e enquanto não me mandarem para um hospício.

Ah. Seria glorioso,

terminar louco,

escrevendo poesia abstrata,

pintando as paredes com minha própria merda.

Mas pera aê?...

acho que já faço isso

figurativamente, pelo menos.

Rômulo Maciel de Moraes Filho
Enviado por Rômulo Maciel de Moraes Filho em 30/11/2016
Código do texto: T5839417
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