ADVOGADA DE DEFESA

Entraram as duas; sentaram-se.

A primeira tomou a frente

Tinha destreza nas palavras

Perspicácia no pensamento

Um olhar lancinante

E num tom sagaz, porém sutil

Falava paulatinamente

Deixando um vácuo nas entrelinhas

Que asfixiava a alma

De quem quer que estivesse

Naquele tribunal.

Um arrepio descia pela espinha

Percorrendo o corpo sob a pele

Até às terminações nervosas

Causando entorpecimento

Como uma droga letal.

Por fim, concluiu

Com um desfecho brilhante

Cravando um punhal

Na sentença do meliante.

A outra não falava nada, a loira

usava os poucos atributos que tinha

Muita saliência e pouco discernimento

Para entender o que se dava

Naquele julgamento.

Afinal, era ela a vítima

Não a ré

Como se pensava.

Vítima em achar

Que tingindo os cabelos

Conseguiria tingir seu passado

E apagar as marcas do pesadelo

Que foi sua infância

Roubada pela prostituição

E pela maldita violência

Que infelizmente só aumenta

Nesse mundo cão.