Nascido nessa merda

Teve um dia que eu acordei

e quis gritar assim que abri os olhos.

Foi como se eu tivesse nascido naquele momento,

e me vi cercado por uma incrível sensação de solidão,

de vazio. de nada.

Deus, como alguém pode se sentir daquele jeito as 8:30 da manhã?

O certo é que eu não sou uma pessoa das mais normais e sensações estranhas como aquela não me são infrequentes.

Só que não tinha experimentado naquela intensidade.

Lutei para encher meus pulmões de ar e engatinhei pela cama. Eu mal podia coordenar meus membros... Minha garganta ardia como se não visse água por uma eternidade .

Ainda assim, eu carregava uma ereção entre minhas pernas.

algo engraçado entre os homens, é que muitos de nós enfrentamos as situações mais desesperadoras de pau duro... de mastro erguido, como um navio rumando para uma tempestade.

Juntei minhas forças, fui ao banheiro e esvaziei o conteúdo da minha bexiga no vaso sanitário.

Me olhei no espelho, ainda com a visão borrada e me senti dolorosamente vazio. Quase doente... sufocado novamente por uma vontade de gritar.

Quem sou eu neste caralho de vida? Neste barril de merda, que a casualidade ou um Deus extremamente sádico me colocou.

Sete bilhões ou mais, compartilham comigo esta desgraça, mas eu ainda consigo me sentir sozinho e desafortunado.

Não sei se sou simplesmente cínico e ingrato, mas não tenho conseguido ver muita vantagem em estar vivo... exceto talvez pela poesia.

Eu despejo pedaços de mim na tela do computador e só ai sinto que estou fazendo algo útil. Mesmo que poucos leiam, mesmo que ninguém entenda...

e quando me vejo chorando, como um recém nascido,

por uma dor que não consigo explicar,

por uma angústia que não consigo aplacar,

me restam a caneta e o papel,

me restam os corações das pessoas que me leem e que de vez em quando eu consigo tocar.

Rômulo Maciel de Moraes Filho
Enviado por Rômulo Maciel de Moraes Filho em 05/11/2016
Código do texto: T5814029
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