Nascido nessa merda
Teve um dia que eu acordei
e quis gritar assim que abri os olhos.
Foi como se eu tivesse nascido naquele momento,
e me vi cercado por uma incrível sensação de solidão,
de vazio. de nada.
Deus, como alguém pode se sentir daquele jeito as 8:30 da manhã?
O certo é que eu não sou uma pessoa das mais normais e sensações estranhas como aquela não me são infrequentes.
Só que não tinha experimentado naquela intensidade.
Lutei para encher meus pulmões de ar e engatinhei pela cama. Eu mal podia coordenar meus membros... Minha garganta ardia como se não visse água por uma eternidade .
Ainda assim, eu carregava uma ereção entre minhas pernas.
algo engraçado entre os homens, é que muitos de nós enfrentamos as situações mais desesperadoras de pau duro... de mastro erguido, como um navio rumando para uma tempestade.
Juntei minhas forças, fui ao banheiro e esvaziei o conteúdo da minha bexiga no vaso sanitário.
Me olhei no espelho, ainda com a visão borrada e me senti dolorosamente vazio. Quase doente... sufocado novamente por uma vontade de gritar.
Quem sou eu neste caralho de vida? Neste barril de merda, que a casualidade ou um Deus extremamente sádico me colocou.
Sete bilhões ou mais, compartilham comigo esta desgraça, mas eu ainda consigo me sentir sozinho e desafortunado.
Não sei se sou simplesmente cínico e ingrato, mas não tenho conseguido ver muita vantagem em estar vivo... exceto talvez pela poesia.
Eu despejo pedaços de mim na tela do computador e só ai sinto que estou fazendo algo útil. Mesmo que poucos leiam, mesmo que ninguém entenda...
e quando me vejo chorando, como um recém nascido,
por uma dor que não consigo explicar,
por uma angústia que não consigo aplacar,
me restam a caneta e o papel,
me restam os corações das pessoas que me leem e que de vez em quando eu consigo tocar.