A prancha do pirata

Quando se é Homem e passa-se dos 30 anos, irremediavelmente você percebe que está andando na prancha de um navio pirata.

Como os olhos vendados, você só tem a opção de ir para frente, pois atrás de você, um pirata (o seu passado) lhe fustiga com um sabre afiado. Não há retorno à partir deste ponto.

Sem saber o que há imediatamente a frente, o homem é obrigado a andar. Cada passo o leva cada vez mais perto à ponta da prancha e aos dentes dos tubarões, mas o fato de não saber quanto falta, torna a viagem infinitamente mais angustiante.

Alguns simplesmente correm e se jogam sem pensar e aproveitam o resto da jornada.

Outros vão se amarrando pelo caminho, cada passo, sempre forçado pelo sabre do pirata (o passado novamente).

O resultado vai ser o mesmo para os dois casos, não importa se você se arrasta ou se você pula, no fim você cai.

Sinto claramente quando sou obrigado a dar um passo,

o pirata grita atrás de mim, sinto o cheiro de rum barato e a ponta do sabre em minhas costas.

Não adianta que eu lhe grite de volta, que eu me lamente,

e penso... "vou correr"

Mas ai o estômago embrulha e eu desacelero o passo,

foda-se o pirata...

fodam-se os tubarões...

hei de aprender a voar.

Rômulo Maciel de Moraes Filho
Enviado por Rômulo Maciel de Moraes Filho em 30/10/2016
Código do texto: T5808057
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