A prancha do pirata
Quando se é Homem e passa-se dos 30 anos, irremediavelmente você percebe que está andando na prancha de um navio pirata.
Como os olhos vendados, você só tem a opção de ir para frente, pois atrás de você, um pirata (o seu passado) lhe fustiga com um sabre afiado. Não há retorno à partir deste ponto.
Sem saber o que há imediatamente a frente, o homem é obrigado a andar. Cada passo o leva cada vez mais perto à ponta da prancha e aos dentes dos tubarões, mas o fato de não saber quanto falta, torna a viagem infinitamente mais angustiante.
Alguns simplesmente correm e se jogam sem pensar e aproveitam o resto da jornada.
Outros vão se amarrando pelo caminho, cada passo, sempre forçado pelo sabre do pirata (o passado novamente).
O resultado vai ser o mesmo para os dois casos, não importa se você se arrasta ou se você pula, no fim você cai.
Sinto claramente quando sou obrigado a dar um passo,
o pirata grita atrás de mim, sinto o cheiro de rum barato e a ponta do sabre em minhas costas.
Não adianta que eu lhe grite de volta, que eu me lamente,
e penso... "vou correr"
Mas ai o estômago embrulha e eu desacelero o passo,
foda-se o pirata...
fodam-se os tubarões...
hei de aprender a voar.