De sal e sol
Nua e deitada sobre a areia, ela sorria. Sua pele queimava, sob o sol de verão, salpicada de sal do mar. Ela gozava aqueles prazeres simples, bem mais do que eu.
Se deixava levar pela embriaguez da caipirinha que tomava e exibia sua nudez.
Toda a grandiosidade do céu azul refletia em sua pele, e me ressaltava um tesão, que talvez fosse impróprio para o momento. Eu quis deitar-me sobre ela, enciumado do sol...
mas me resumi a olhar e conjecturar sobre um futuro próximo, após o almoço. Nós dois, balançando numa rede.
A vida podia ser simples daquela forma... pensei... Todos os dias, e não só aos sábados, domingos e feriados.
A vida podia ser desmonetizada, descaretizada,
podia ser mais humana e menos máquina,
podia ser mais sobre felicidade e menos sobre lucro.
Era como se estivéssemos em um universo paralelo, eu e ela.
Despreocupados, vagabundos, sem ambições que se estendiam além do jantar.
Desligamos os celulares, escondemos os relógios e imergimos um no universo do outro.
Três dias era o tempo que podíamos nos permitir a isso, mas com algumas poucas horas naquele lugar, eu já sabia que não iria querer voltar ao mundo de asfalto.
Havia uma crueldade no fato de termos que viver do jeito que vivíamos, privados das liberdades mais simples. Eu era tão preso que não percebia que estava preso. Não fosse ela, eu continuaria na ignorância. Se não tivesse me arrastado para essa viagem, eu estaria em casa, em frente a um computador me robotizando um pouco mais.
Antes que eu pudesse afundar mais naqueles pensamentos ela veio até mim. Seus olhos me encaravam como se ela soubesse o que eu estava pensando.
Despiu-me então,
da roupa e das preocupações.
Mostrou-me,
seu amor, complexo em sua simplicidade,
queimou-me como se tivesse absorvido o sol em sua carne.
Me arrastou, preso em suas ancas
para longe das minhas inquietações.