Fragmentos de um conto que não escrevi

O suor escorria pelo seu pescoço,

descoberto.

e ela, ainda montada em mim, acendia um cigarro,

pra completar o gozo.

Passou a mão pelo cabelo, cortado bem curto,

por que não suportava calor,

e por que podia.

Não comprava aquela ideia de falta de feminilidade...

ou qualquer outra imposição sobre o seu corpo.

mas se impunha sobre o meu,

de uma forma diferente. Com a carne nua,

ela controlava todo o coito, ia e vinha da forma que queria

sem qualquer hesitação.

Ao fim, deitava-se, com a cabeça recostada em meu peito

e se entregava a um sono leve e assustado.

Suas fragilidades só eram expostas após o sexo.

Era a única ocasião em que ela estava realmente desnuda,

sem armadura, sem espinhos,

sem máscara.

E só ali eu sentia que realmente podia ver seus olhos.

Era como se ela usasse algo além dos óculos, que me impedia de ver o que tinha dentro dela,

e depois da tempestade, que era o amor que ela fazia,

tudo ficava mais translúcido e real.

Eu olhava e via um oceano, perfeito, complexo, alucinado,

eu via sonhos em forma de nuvens, amores em forma de rostos das tantas pessoas que ela amara,

vi paixões em forma de verso,

e poesia. Na verdade, o olhar dela era quase todo poesia.

Rômulo Maciel de Moraes Filho
Enviado por Rômulo Maciel de Moraes Filho em 30/09/2016
Código do texto: T5776812
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