Fragmentos de um conto que não escrevi
O suor escorria pelo seu pescoço,
descoberto.
e ela, ainda montada em mim, acendia um cigarro,
pra completar o gozo.
Passou a mão pelo cabelo, cortado bem curto,
por que não suportava calor,
e por que podia.
Não comprava aquela ideia de falta de feminilidade...
ou qualquer outra imposição sobre o seu corpo.
mas se impunha sobre o meu,
de uma forma diferente. Com a carne nua,
ela controlava todo o coito, ia e vinha da forma que queria
sem qualquer hesitação.
Ao fim, deitava-se, com a cabeça recostada em meu peito
e se entregava a um sono leve e assustado.
Suas fragilidades só eram expostas após o sexo.
Era a única ocasião em que ela estava realmente desnuda,
sem armadura, sem espinhos,
sem máscara.
E só ali eu sentia que realmente podia ver seus olhos.
Era como se ela usasse algo além dos óculos, que me impedia de ver o que tinha dentro dela,
e depois da tempestade, que era o amor que ela fazia,
tudo ficava mais translúcido e real.
Eu olhava e via um oceano, perfeito, complexo, alucinado,
eu via sonhos em forma de nuvens, amores em forma de rostos das tantas pessoas que ela amara,
vi paixões em forma de verso,
e poesia. Na verdade, o olhar dela era quase todo poesia.