Clara

Ela gritou pras paredes,

bateu as portas,

fechou as janelas.

trocou os lençóis,

lavou as roupas,

tomou um banho antes,

e depois de tudo.

Mas as coisas continuavam do mesmo jeito.

As paredes ainda estavam lá,

caladas,

mas era como se dissessem algo que ela não queria ouvir.

as portas e janelas, mesmo fechadas,

pareciam incapazes de a isolar do mundo.

suas roupas, mesmo lavadas, ainda tinham cheiros

que ela queria esquecer,

e sua pele.

A pior de todas,

a mais renitente, mais teimosa,

ainda se arrepiava a cada lembrança,

ainda se mantinha quente,

ansiosa por toques que ela não teria mais.

O que ela ia fazer agora?

Perguntou para as paredes, para as portas e janelas...

perguntou para suas roupas e amaldiçoou

a pele que tinha sobre a carne.

talvez só o tempo,

e talvez nem ele,

pudesse dar a resposta que ela queria.

enquanto isso ia empilhando garrafas de vinho

e maços de cigarro por onde ia.

talvez perdesse o emprego,

talvez perdesse a sanidade,

amigos, dias de sol e céu azul,

mas mantinha fé no tempo,

e nas ressacas acumuladas...

ressacas sempre conseguiam tirá-la da cama.

nem que fosse só pra vomitar.

Rômulo Maciel de Moraes Filho
Enviado por Rômulo Maciel de Moraes Filho em 25/08/2016
Código do texto: T5739141
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