Clara
Ela gritou pras paredes,
bateu as portas,
fechou as janelas.
trocou os lençóis,
lavou as roupas,
tomou um banho antes,
e depois de tudo.
Mas as coisas continuavam do mesmo jeito.
As paredes ainda estavam lá,
caladas,
mas era como se dissessem algo que ela não queria ouvir.
as portas e janelas, mesmo fechadas,
pareciam incapazes de a isolar do mundo.
suas roupas, mesmo lavadas, ainda tinham cheiros
que ela queria esquecer,
e sua pele.
A pior de todas,
a mais renitente, mais teimosa,
ainda se arrepiava a cada lembrança,
ainda se mantinha quente,
ansiosa por toques que ela não teria mais.
O que ela ia fazer agora?
Perguntou para as paredes, para as portas e janelas...
perguntou para suas roupas e amaldiçoou
a pele que tinha sobre a carne.
talvez só o tempo,
e talvez nem ele,
pudesse dar a resposta que ela queria.
enquanto isso ia empilhando garrafas de vinho
e maços de cigarro por onde ia.
talvez perdesse o emprego,
talvez perdesse a sanidade,
amigos, dias de sol e céu azul,
mas mantinha fé no tempo,
e nas ressacas acumuladas...
ressacas sempre conseguiam tirá-la da cama.
nem que fosse só pra vomitar.