A prostituição de cada um

Ele a chamou de puta,

suja.

E eu perguntei, quase automaticamente,

- Porque suja?

- Ela vende o corpo. Fode com qualquer um. Ele respondeu, carregado de nojo.

- Mas você foi pra cama com ela ontem.

- Fui, mas não a beijei.

Fiquei um pouco perplexo, me calei e continuei a andar, olhando para o chão.

Ele se despediu, pegou a chave do carro e foi embora.

Olhei para a moça que ele chamou de puta e suja.

Ela resplandecia na mesa, cercada de pessoas.... sorrindo.

Ele, sentando em seu carro comprado em 36 parcelas,

com o dinheiro do salário que ele ganhava,

vendendo sua alma e seu tempo para quem pagasse mais.

Sua consciência, comprada numa igreja, polida pela televisão até brilhar, dizia que estava tudo certo.

Ele pode pagar pela carne de uma pessoa,

transformá-la em um vaso para despejar seu desejo e sua luxuria reprimida. Contanto que não a beije. Contanto que a considere inferior. Suja.

Ele pode se vender, pelo salário certo, pode se alienar das questões humanas e preencher tudo com coisas que ele compra pela internet e em shoppings... Tá tudo certo. Tudo capitalizado.

Senti nojo.

Não da puta. Mas dele.

Senti nojo, da parte de mim que também vive assim.

Somos todos putas de alguma coisa,

mas a sujeira tá nos olhos de quem vê.

Rômulo Maciel de Moraes Filho
Enviado por Rômulo Maciel de Moraes Filho em 11/08/2016
Código do texto: T5725480
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