A prostituição de cada um
Ele a chamou de puta,
suja.
E eu perguntei, quase automaticamente,
- Porque suja?
- Ela vende o corpo. Fode com qualquer um. Ele respondeu, carregado de nojo.
- Mas você foi pra cama com ela ontem.
- Fui, mas não a beijei.
Fiquei um pouco perplexo, me calei e continuei a andar, olhando para o chão.
Ele se despediu, pegou a chave do carro e foi embora.
Olhei para a moça que ele chamou de puta e suja.
Ela resplandecia na mesa, cercada de pessoas.... sorrindo.
Ele, sentando em seu carro comprado em 36 parcelas,
com o dinheiro do salário que ele ganhava,
vendendo sua alma e seu tempo para quem pagasse mais.
Sua consciência, comprada numa igreja, polida pela televisão até brilhar, dizia que estava tudo certo.
Ele pode pagar pela carne de uma pessoa,
transformá-la em um vaso para despejar seu desejo e sua luxuria reprimida. Contanto que não a beije. Contanto que a considere inferior. Suja.
Ele pode se vender, pelo salário certo, pode se alienar das questões humanas e preencher tudo com coisas que ele compra pela internet e em shoppings... Tá tudo certo. Tudo capitalizado.
Senti nojo.
Não da puta. Mas dele.
Senti nojo, da parte de mim que também vive assim.
Somos todos putas de alguma coisa,
mas a sujeira tá nos olhos de quem vê.