Mentiras, realidade paralela, ambição, medo, manipulação e caos

Mentiras, realidade paralela, ambição, medo, manipulação e caos

ENSAIO FILOSOFICO N 43

Escrito pelo Bacharel em Teologia

Estudante de Religião e Filosofia e

Capelão Ev. Antonio F.Bispo

A realidade cria a verdade ou a verdade à realidade? O que define o verdadeiro do real e o falso do imaginário? Por que as pessoas se satisfazem, sentem-se superiores, e consideram se juízes da vida alheia quando se julgam saber a verdade sobre a vida de outrem baseado numa realidade paralela? São os fatos que provam a verdade de algo ou o ponto de vista do observador misturado com uma gama de emoções confusas que definirão esse tipo de verdade? Há realmente uma necessidade de réplica ou tréplica por parte do observado para convencer o observador ao seu ponto de vista? Por que essa necessidade humana de sempre estar certo ou com razão, mesmo quando conscientemente sabe ser o motivo principal de um caos iminente ou o pivô de uma desordem social? O que torna o homem melhor que outros animais, quando em seus meios civilizados de julgamento acabam sendo traído pelas suas emoções no ato de julgar agindo de modo não civilizado? Precisamos realmente tomar partido em tudo que nos rodeia e como juízes sair absorvendo ou condenando os que nos procuram a compartilhar suas pobres vidas ou em certos casos seremos apenas prisioneiros do ódio, ira e indiferença por incorporamos uma realidade paralela alheia? Vamos refletir.

Enigmática, fabulosa, excitante e intrigante é a capacidade de verbalização humana. É por meio dela que interagimos e por meio dela que criamos diariamente nossas realidades. Não é exatamente pelos atos, fatos, ações e reações que costumamos julgar o mundo a nossa volta, mas geralmente pelo verbo, pelas palavras ditas pelo que fala, e pela ação ou não a ação do ser de quem se fala. Nossa capacidade de verbalizar o que sentimos e a causa principal da civilização humana. É por meio dela que se criou a necessidade de padronizar em registro oficial as leis de um povo, seja de cunho constitucional ou religioso. É ainda por meio de nossa capacidade verbal que toda lei apesar de escrita, torna-se passível de interpretação, podendo mudar a todo instante a posição entre observador e observado, entre vitima e acusado, entre o causador e o sofredor de uma ação e podendo mudar de acordo com a retórica e eloqüência do que defende e do que acusa.

Nossas faculdades mentais para determinar o que é real do que é verdadeiro fica sujeito ao modo de expressão de quem fala e o modo de reação do ser que se fala. Alem disso, por vínculos emocionais ou familiares, medo, coação, ou pela própria capacidade de escolha, é possível criar outra realidade, a qual poderíamos chamar de mentiras, mas por hora, nesse texto, chamarei de realidade paralela.

Quantas pessoas são necessárias para se criar uma realidade paralela? Isso geralmente depende de quanto se tem a perder no grupo, ou quanto se tem a ganhar para o grupo. Que diga isso os nossos políticos brasileiros envolvidos em diversos esquemas de corrupção, que diariamente com seus advogados mudam a versão dos fatos, acarretando em perca de tempo e dinheiro para os cofres públicos, fazendo com que ações que poderiam ser julgadas em um dia, demora-se décadas, devido a construção diária de uma nova realidade ou obstrução dos fatos para que não se exponha o caso como realmente ele é.

Nas relações mais simples, familiares e cotidianas, não deixa de ter também a criação de realidades paralela entre membros do grupo. Essa por feita envolve um numero menor de pessoas, mas que assim mesmo não deixa de produzir o caos seja na vida de uma ou de varias pessoas. Toda realidade paralela produz uma alteração de perspectivas nos fatos, trazendo perturbações financeiras ou emocionais aos envolvidos, como se fosse uma ruptura na linha do tempo, onde duas realidades lutam para coexistirem simultaneamente trazendo sérios danos aos envolvidos, pois tentar criar a força uma realidade temporal que só existe na cabeça de quem inventou a mentira, que tudo nesse universo depende de tempo e espaço para ocorrer. Assim, ao acrescentarmos algo que nunca ocorreu, no mesmo espaço de tempo já ocupado com algo que ocorreu o mentiroso tentar criar um vácuo no espaço para que sua realidade seja inserida ou subtraída dele.

Um mentiroso ou criador de realidades paralelas, terá que diariamente acrescentar fatos ao que fora dito anteriormente, para poder sustentar o que fora dito. A leveza e a rapidez como se constrói tais realidades é semelhante ao de um castelo de cartas que pode ruir a qualquer instante, mas o peso das peças encaixadas para criar essa estrutura de mentiras, ao cair, tem o peso esmagador de milhares de toneladas que quando cai em solo firme causa tremores intensos em outras estruturas, e em contato com a água, causam ondas avassaladoras. Assim é o efeito das realidades paralelas. Envolve imensamente os que estão ao redor, e ainda pode atingir a vizinhança, destruir um quarteirão inteiro com sua “onda de choque”.

As vezes, somente o tempo a e consciência podem livrar alguém que foi fisgado pela criação de uma realidade alternativa que como um buraco negro, suga toda energia do individuo, que agora enganado, ou emocionalmente ligado ao mentiroso, tem suas forças sendo sugadas para esse buraco sem fim. Angustia, ódio, rancor, mágoas, desejo de justiça e vingança podem ser o resultado causado por essa anomalia no tecido do tempo daquela pessoa em particular que foi inflamada pela interlocução do criador da realidade paralela. Como os humanos têm um tempo de vida útil relativamente pequeno nesse veiculo de átomos de carbono qual chamamos de corpo humano, e que possivelmente tenha uma consciência mais duradoura a depender do ponto de vista religioso de cada um, tais pessoas partirão dessa vida, sugadas por esse turbilhão de sentimentos criados pela realidade paralela e sabe-se lá o que vem depois. Não terão tempo de se desculpar a quem sem motivos ofendeu, alem de ter vivido quem sabe toda uma vida, acreditando em algo que nunca existiu.

Trocando em miúdos: o mentiroso alem de causar problemas visíveis, causa também problemas invisíveis nas almas das pessoas que podem culminar até o dia de suas mortes e ainda além da morte quem sabe e que infelizmente, a depender da idade ou fatalidade, muitas pessoas partem dessa vida, sem saber que foram vitimas de uma armação, e nem sequer teve tempo de rever seus conceitos, sem falar que gastou a força criadora poderosa dos seus sentimentos numa causa mais perigosa que lixo tóxico.

A maneira mais eficaz para nos livrarmos das garras de pessoas criadoras de realidades paralelas é o não julgamento, a neutralidade, o não partidarismo, analisar os nossos próprios sentimentos antes de analisar os fatos que foram expostos pelo outro, pois somos tendenciosos de antemão a condenar quem não gostamos ou sentimos inveja, ou absorver a quem amamos ou já nos fez favores ou poderá fazê-lo no futuro. A verdade dos fatos só poderá ser descoberta se nos despimos do julgamento antecipado pelos meios ora explicado.

Outro detalhe que passa desapercebido nessas questões, é que natural ao homem comum, não amadurecido, a falsa idéia de termos domínio sobre a vida de outrem, nem que seja por alguns segundos. Como Eva foi tentada no paraíso, somos tentados o tempo inteiro, com a proposta ilusória de domínio sobre o nosso semelhante seja pelo poder do verbo ou pelo poder da ação.

Quando um mentiroso conta a outrem um fato qualquer, a mente desavisada do que houve, tem a falsa idéia de que “pode” naqueles momentos manipular aquele que fala e o ser de quem se fala, já que o mentiroso estar criando essa brecha temporal. Grande tentação essa, que como tantas outras, ao cedermos caímos em desgraça, comprando uma briga que não é nossa e desviamos a atenção do que realmente importa que fosse achar uma solução para o problema, e não apenas achar o “culpado”. Diferente de Pilatos que lavou suas mãos do sangue inocente, as vezes nos banhamos de corpo inteiro no lamaçal de forças negativas criadas a partir de uma mentira incorporada como verdade qual fazemos desta nossa causa de luta e desse modo já não somos mais apenas ouvinte mas ao mesmo tempo nos tornamos juízes e réu simultaneamente criando para nós mesmo outro tipo de realidade.

Como se não bastasse nosso domínio sobre reino animal, vegetal, mineral, o controle da tecnologia e agora até controle do clima e do tempo com intuito de extermínio em massa, nossa espécie nunca deixou de ser seduzida por essa momentânea sede de poder sobre os outros, ainda que pelo verbo. Do simples ato de fechar uma venda, ao ato de criar uma bomba atômica, estamos sempre em busca do poder pelo domínio do outro. Todo mentiroso e fofoqueiro dar de graça esse poder a outro. Todo desavisado pode ser sugado por esse poder, quando ao ouvir, tem mais interesse em propagar, divulgar, manipular e rearranjar o que acabou de ouvir do que exatamente procurar uma solução, sem levar em consideração que operamos em organismos sociais e o ato de um pode afetar o todo, bem como o todo afeta o um.

Não levo em pauta nesse momento, a criação de realidades alternativas (ficção, fantasias, aventuras, dramas) criadas por escritores, romancistas, novelistas, poetas, atores, ilusionistas e outros mais, que de modo avisado, o espectador já sabe de ante-mao do que se trata, e se envolvem nos textos, musicas, artes ou danças por que querem, como uma forma de prazer e não como uma causa régia a ser lutada. Mas me refiro aqui ao ser comum, o individuo que de modo planejado, arquitetado, minucioso e meticuloso desenvolve a arte de mentir, como se essa fosse uma profissão glamorosa e de modo simultâneo adquire seguidores e militantes e defensores de suas criações. Refiro-me aos espectadores e figurantes desse circo de horror, que no palco ou na platéia acabam se envolvendo em tais realidades, e como em um filme, são inseridos em um roteiro, cujo script, percebe-se apenas no final que o mocinho era o vilão e o vilão era o mocinho.

Uma característica marcante de todo mentiroso é se antecipar ao ser de quem se fala e contar primeiramente sua versão dos fatos para gerar uma confiança maior no ouvinte, seja um familiar, um vizinho ou um oficial de justiça. Alem disso no seu modo de falar, procurar convencer a quem houve a todo custo que sua versão é a única e verdadeira versão dos fatos. Comumente tal pessoa chora, lacrimeja, desmaia, grita, xinga, se irrita ou demonstra desespero quando estar narrando os fatos para uma conversão maior de ouvintes.

Por traz de todo mentiroso de carteirinha há sempre uma dessas duas características ou as duas simultaneamente: uma alma desesperada, com medo da solidão e desprezo e por isso criam suas mentiras para atrair para si o maior numero de olhares possíveis como uma forma de tapar esse buraco existencial e assim se livrar da dor, ou uma pessoa iludida pelo prazer momentâneo dos sentidos ou do lucro fácil e por isso buscam no sexo, álcool, entorpecentes, na máfia ou em outros corruptos essa forma de coexistência.

Outra coisa louca de se pensar sobre nossa existência (eu rio comigo mesmo a cerca disso), é que geralmente todo mentiroso troca uma eternidade de virtudes e beatitudes por alguns segundos de sinapses elétricas que percorrem nosso sistema nervoso por meio do massagear do nosso ego nos causando conforto, ou ainda pela influencia da falta ou produção exagerada de certos hormônios. Muito louco isso! O que faz uma mulher que em uma cultura machista, tradicional, conservadora ou extremista religiosa resolve burlar os meios cabíveis e assim mesmo trair seu esposo, ainda sabendo que põe em risco a própria vida ou integridade moral e física de ambas as famílias? Não seria de antemão sensação de bem estar, causado pela fricção da pele, dos órgãos genitais ou da boca, que geram milhares de impulsos elétricos em nosso sistema nervoso que por sua vez envia ao cérebro, qual no final denominamos de orgasmos? Varias pessoas põe suas vidas e a de outros em riscos por causa de meros impulsos elétricos que duram frações de segundos. Muito hilária nossa espécie! Ou seria hilário nossa definição de moral? E o que dizer de adolescentes, que de uma hora para outra entram em uma cadeia de mentiras em busca do também prazer sexual, ou vícios pelo simples fato da alta quantidade de hormônio produzida e acumulada em si, causando dificuldades em manter um raciocínio lógico ao tomar seria decisões que podem influenciar para sempre suas vidas? E o que dizer do comprador compulsivo, ou do que vive de ostentação, precisando mentir, extorquir, ou subtrair de outrem para comprar coisas sem sentidos, que para nada lhes servem, ou que nunca irá precisar, simplesmente para receber elogios de alguns poucos que exercem influencia sobre ele, ou este o tem como modelo de admiração, pior ainda: vivem procurando impressionar pessoas que não estão nem ai para estas. Tudo não passa de sinapses, impulsos elétricos em nossos cérebros causados pelos mais variados fatores, desejos e medos. E o que vem depois? Cada religião descreverá o que vem depois desse conjunto de fatores que nos torna quem somos. Uns dirão depois que virá o paraíso, nirvana, céu, nosso lar, seol, hades, reino de asgard, milênio, sétimo céu...até nisso criamos realidades alternativas em cada cultura para preenchermos nossas necessidades. É possível que de modo inconsciente, estejamos todos interligados de algum modo nessa fonte vital para onde convergem todas as consciências, qual comumente chamamos de Deus.

Como nossos corpos são pura energia condensada, nossos pensamentos e sentimentos são como fios condutores metálicos ou mais moderno ainda como a bobina de Tesla que produz eletricidade a longa distancia mesmo sem precisar de fiação. Todo mentiroso sabe, ainda que inconsciente que alem do ver, é por meios dos sentimentos e pensamentos que transmitem a outras centrais (pessoas) suas formas de energia. Sendo assim, usam trejeitos de coitado, choram, gesticulam e fazem todo tipo de teatro para envolver outros em sua causa. Somente uma mente que usa a lógica e a razão e não apenas a emoção, é que pode ser capaz de decidir se seus corpos serão transmissores dessa corrente negativa de energia, ou se serão como terminais isolantes pondo um fim a corrente elétrica do mal. Na eletricidade comum a mesma energia que ilumina as pessoas, e faz acontecer o progresso, pode ser uma fonte de destruição em massa. Sobrecargas, falhas em sistema, rupturas de cabos, falha no isolamento, falha no sistema condutor e uma serie de fatos que faz a mesma energia que produz vida, gerar morte. O mesmo acontece quando não administramos a nós mesmo, nosso próprio comportamento mediante a um mentiroso de carteirinha e seus cúmplices. Só uma analise dos fatos, ou isolamento dos sistemas podem nos salvar de queimarmos até nossa ultima reserva de nossa preciosa energia vital, condenando, julgando, ou absorvendo crimes que nunca aconteceram.

Corpos constituídos pela mesma matéria, mas que produzem diferentes tipos de energias, baseado no que vemos, ouvimos, sentimos, degustamos, cheiramos e acima de tudo como compreendemos o mundo ao nosso redor, não como um fato isolado, mas como uma cadeia de causas e efeitos. Ao que lhe é vetado a capacidade de pensar por si só será como um fluxo de energia sem direção, dando sobrecargas em outros sistemas por onde passar. Quanto ao mentiroso, em toda historia humana tem sempre sido o motivo muitas mazelas por onde passa, para somente no final colher os frutos da própria desgraça.

Escrito em 12/6/16

Ferreira Bispo
Enviado por Ferreira Bispo em 12/06/2016
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