POEIRA
As milhares de pessoas que passaram por mim, todos os dias, algumas apressadas, desatentas, alegres, tristes, enfim, pessoas que passaram, tão minhas desconhecidas..., e o sol queimando minha retina, me fez confundir, interrogar a mim mesmo, quem sabe tais pessoas que passaram por mim não me viram diferente, estava entre elas, era apenas uma delas, somos apenas pessoas entre milhares de pessoas e o sol nos ilumina, a todos, mas somos tão únicos, de certa forma, tão solitários, tão irritantemente desconhecidas de nós mesmos.
O sol, as estrelas tão escritas, tão literalmente conhecidas e amadas, os santos astros ateus que nos brindam durante a noite com suas rápidas passagens, pedaços de beleza, pedaços da morte, nos vêem como se nada fossemos, assim como vemos as poeiras que nos cercam, uma multidão de nada que apenas nos aborrecem com seus aspectos nada higiênicos. Pois bem, esses Deuses espaciais nos filtram e nós, não nos apegamos, reagimos com surpresa, poetizamos e dormimos. Somos humanos, amamos e sentimos saudades, e eles, nos ignoram como poeira debaixo do tapete. Assim somos , diante do deleite dos gigantes que nos rodeiam, assim somos nós, diante da poeira que nos abraça, do frágil abandonado, dos esquecidos idosos, do choro sentido do tetraplégico, da força hercúlea do cego contador de moedas. Nosso sol impiedoso, impiedoso? Nada mais que nosso egoísmo, nossas vaidades, nossa hipocrisia. As milhares de dores que ouvimos, que sentimos, restringem-se apenas as que enxergamos como verdade, com acuidade de quem sabe que o futuro é a morte, melhor sem elas, essas dores de todos nós e o sol lhes queimando a retina, somos poeiras que os dez mandamentos escondem, é impossível ponderar o imponderável.
O tempo curto é senhor da verdade, entre bilhões de anos que o nosso universo conta, não conta as poucas dezenas de horas que por aqui passamos, avaliamos o quão pequena é a nossa vida, então criamos céus e infernos, reencarnações, espíritos e almas perdidas, mas nos perdemos no pouco que temos e no muito pouco que oferecemos, porque nossas poeiras, a gente esconde debaixo do tapete até que nos juntemos a elas. Entre bilhões de anos, seremos um minúsculo ponto, dentro de outro minúsculo ponto, até que aos olhos da natureza, ganhemos forma de vida, e a gente se achando vida, diante do universo, quanta pretensão. Somos poeira, somos pessoas, podemos apenas nos amar, mas nem isso podemos guardar, porque os outros nos ensinam a forma, o modo e quem podemos amar, de resto, serve a tortura como remédio, porque, para o covarde, não basta varrer a poeira, tem que ser com aspirador. E o grito lhe será somente um beijo frio de uma boca sem vida, com um coração partido e, se de fato existir um espírito, entre o céu e o inferno, mas longe da poeira que o céu criou, nos irá receber ou esquecer como poeira que o vento levou. Ate que nossos gigantes descubram que também são poeiras na imensidão de uma verdade que para nós, ou é loucura ou especulação. Para aceitar tudo isso, ou se pergunta a si mesmo ou encontra outro louco para a gostosa brincadeira de se perguntar, juntos, o por que das coisas. Sempre escondidos, existe sempre a possibilidade de ser confundido com alguém que pensa diferente e esquisito e ai se corre o sério risco de ser covardemente torturado.
José Carlos o. Cavalcante