Terapia em texto
Alentar mãos alheias? Quantas vezes! É bem mais fácil. A minha, não permito. Viver em absoluta auto-suficiência, se é que existe o absoluto, não é tão doentio quanto a completa dependência de outrem? A outra margem do mesmo rio?
Passei anos vestindo-me de mim. De uns tempos para cá, uma necessidade insana de despir-me. E a sensação de nudez é incomodamente libertadora: nua, descubro-me com minhas próprias roupas, auto –manufaturadas, escolhidas a dedo, apesar da influência de alguns conselhos alheios. A nudez (re)veste e não mais sei (tra)vestir-me de mim e sair à vida. A nueza de agora é closet lotado das vestes que me serviram outrora, e talvez ainda sirvam, mas a certeza dilui-se porque viver sem vestir-me, a nudez pura e simples, é assustadoramente reveladora.
Talvez alguma camiseta com algum slogan seja-me necessário, vez em quando, só pra me lembrar quem sou, ainda que o slogan nem mais me defina.