Ciscos
Átomo, partícula indivisível. Ou quase.
Grão de areia no Saara.
Folha caída na Amazônia.
Módico floco de neve no Everest. Ou nos Andes.
Gota no oceano.
Partícula atmosférica.
Ínfimos ciscos. Exíguos. Minguados. Míseros. Parcos.
Inofensivos. Insignificantes. Inermes. Inertes.
E cisco no olho? Quão inócuo?
Eu peculiar,
Cada cisco,
Cada humano,
Somos todos ciscos
No desmesurado universo.
E se não for no olho?
Só uma pinta da Joaninha?
Ou átomo presente na homeopatia?
Grão de trigo para germinar pão?
Folha que brota no chão cimentado
Manifestando a abissal força da vida?
Gota de saliva para amantes?
Partícula de palmeira cica suspensa no ar?
Eu que tento melhorar, aprender, aprimorar, entender, ensinar,
Estendo a cada outro humano os meus ciscos
E escolho não pousar nos olhos.
Se sou átomo do universo,
E me transformo e me aprimoro,
Eu melhoro este mesmo universo
Com um único cisco.
Só meu. Só eu.
E se os ciscos fora dos olhos forem coletivos?