Quando não há girassol

Estamos tão próximos e infinitamente distantes.

Estamos correndo juntos, mas não saímos do lugar.

Estamos dando voltas, mas são só círculos.

Temos um mar em nossa frente, mas não temos coragem de mergulhar.

A lua estava lá, mas nós não enxergamos.

Nada de vagalumes, girassóis, rosas, cartas.

Nada.

A gente podia ter tudo, mas preferiu o nada.

A gente podia ter cor, ser flor, azul, viajar pro sul, mas a gente quis o medo.

Não ser de amor, ser cinza, não colorir, esconder o que tem dentro.

E estamos aqui...

...indo pra lugar nenhum.

Eu escrevo o que eu vejo, escuto e enxergo.

"Mimada", "infantil", "pirracenta", me enxerga assim.

Mas quem nós somos de verdade?

Somos, realmente, o que enxergam em nós?

Quem somos além da casca que exibimos por aí?

Eu não sei.

Eu só queria ver além de olhos nublados.

E Eu queria que enxergassem além do oceano revolto que trago no lugar de olhos.

Mas sei que é tudo por conta do vento e do tempo: se ficar, é porque é mais que poeira;

Se não envelhercer e enferrujar, é porque é imune aos ponteiros do relógio e a maresia.

Eu sou pequena e frágil, só quando escrevo me sinto grande e forte.

Só me pondo em linhas é que eu sei quem eu sou de verdade.

Não importa o que aconteça ou como me vêem, porque quando os outros dormem, quando se fecha a porta, sou só eu, o meu reflexo, o papel e a caneta.

E além de tudo o que se vê ou o que não mostramos, estamos apenas tentando, estamos sendo nós.

- A Moça Das Rosas