Maturação retrógrada
Hoje me dei conta de meu rosto - mais envelhecido e menos entristecido. Rugas. Há 20 anos, eu olhava para os rostos iguais ao meu e não os compreendia. Eles me diziam frases ininteligíveis até então. Expressavam palavras bem colocadas sem muito esforço – resultado de quem sabe concatenar pensamentos e vocabulário. Fitava-os, ignorante, pela tenra idade e por conseqüência da imaturidade. Não conseguia me enxergar neles. Era um misto de uma pitada de inveja da leveza dos traços que deixaram de carregar os pesos desnecessários da juventude, um tanto de medo de perder a própria mocidade e outro tanto de alívio por parecerem cronologicamente tão distantes de mim. Só com o passar dos anos é que aprendi que a juventude também aferrolha apesar da sensação libertária da inconseqüência. E simplesmente assim, hoje, olhei o meu rosto e me reconheci. Agora, tenho um daqueles que antes eu não entendia. A inveja se dissipou porque ela não era apenas uma pitada: era bem maior do que os outros dois tantos. E sorri feliz, pra mim mesma, exibindo um orgulho nada vaidoso, apenas ciente de si, conhecedor de toda a trajetória percorrida até o presente.