Gaivotas
Peço um pouco mais de alma, um pouco mais de calma.
Me afundo na areia, sinto a brisa.
Há um céu inteiro coberto de azul marinho.
Olhos marejados e lábios cansados: eu não quero sorrir.
Hálito doce, pesada, bagunçada por dentro e por fora.
Pés no asfalto, me sinto alta, você faz falta.
Maresia, cheiro de dia, dirijo até o farol, só quero ver o nascer do sol.
Eu lembro de nós, da voz de uma cantora francesa, de púpilas feito pinhas.
De quando eu não sabia, de quando eu só bebia, qualquer baseado já servia.
Será que a morte carrega uma foice?
Será que no fim é o fim?
Será que o trem vai surgir por trás das montanhas?
Ou é tudo drama de mocinha bobinha do interior?
Finalmente, eu vejo Rá, quase não posso abrir os olhos.
Pupilas pequenas, olhos de gato, rímel, sal e maresia.
Uma dia, mais um, menos um, não sei.
Eu vejo seu rosto, mãe: claro, azul, brilhante.
Eu sinto cheiro de café fresco, de terra molhada, de rosas e alfazema, tudo misturado
Fico com o olhar perdido.
Eu juro que, quase, sinto que sou abraçada.
Baseado, cogumelo, vodka, alucinação, lobo frontal, eu não sei, mas parecia real.
Talvez seja só tristeza de menina, mágoa, porque sempre te esperei na esquina. Eu queria um "adeus, minha menina".
Eu não sei.
Eu nunca soube, é só que, hoje, não coube.
Eu não sei nada sobre nada, só quero me divertir, ver o sol nascer outra vez, sentir o gosto do sal.
Eu quero esquecer não só dessa noite, mas de tudo.
Sou maresia e vento.
Não sou uma granada prestes a explodir (ou talvez seja).
Sorrio pro nada e posso jurar que ele sorri de volta.
(A Moça das Rosas)