Noite de terror em viés de destruição

É escaldante verão. Estamos a tomar banho na praia de Ondina, Salvador-BA. O mar mui sereno, marolas a roçar, de leve, nossos corpos.

Susana adverte aos meninos para ficarem bem atentos, pois mar aberto costuma ser traiçoeiro. Tudo leva a crer que este seria um belo e divertido final de semana. Olho ao redor, perfeita e doce calmaria.

Giro em torno de mim a guardar cada detalhe que nos cerca. Famílias unidas se divertem, cada qual em seu grupo, saudáveis ilhas heráldicas a conversar e brincar alegremente. Outras, como a nossa, saltitam no raso, a apreciar o quebrar das ondas já sem a garra de início. Imitamos uma partida de futebol aquático.

_ Vamos lá, galera! Pega a bola, Od Ben Od! _ Bato as palmas enquanto comando a brincadeira. _ Valeu, Peterson! Joga pra Susie! Vamos! Vamos! Não deixa a bola cair!

Enquanto brincamos alegremente, vejo algo na direção de alto-mar e me apavoro. Uma enorme e ruidosa tromba d'água gira em direção à praia. O primeiro e único tornado que já vi ao vivo em toda minha vida. Reúno os meus queridos, alerto às famílias próxima a nós do perigo que se aproxima.

_ Alerta todos! Algo estranho vem vindo de alto-mar! Olha lá! Um tornado! Corram todos e se abriguem como puderem. Pro Hotel! Pro Hotel! Andem, se mexam! _ Grito desesperadamente.

Cada qual se vira como pode, em busca de seguro abrigo. O mesmo fazemos nós, correndo pro saguão do Mediterranée. Outros instintivamente fazem o mesmo. Ainda com bastante intensidade, mas decrescido ao nível de furacão, o agitado mar se espraia como pode em todas as direções. Graças ao Eterno que o lobby está muito acima do nível do mar. As águas lambem a soleira da recepção, não sem salpicar naqueles que ali se encontram. Começo a orar, pedido ao Todo Poderoso que nos ajude, nos salve daquela surgente. Os demais fazem o mesmo e, naquela pequena fé que aos poucos se agiganta, criamos novo ânimo e, como a imitar ao Mestre, ordenamos ao mar e ao vento que se acalmem.

_ Procurem se manter nesse nível mais alto e não se preocupem! _ Diz o chefe da recepção. _ Este hotel foi construído para resistir os piores dos tornados.

Aos poucos, as coisas vão-se normalizando. Tenho a sensação que estamos em meio a um pesadelo, mas logo vemos que não. É como acordar de um sonho e entrar noutro em pesadelo.

Passamos para um outro prédio vizinho. Mal entramos e um ruidoso som ensurdecedor nos agride os tímpanos. Uma terrível pulsação de alta intensidade nos envolve de tal forma a dominar todo o ser. Ao intenso ruído, os corações involuntariamente pulsam no ritmo daquela infernal batida. Uma mistura de rock, funk e pagode favorece o caos que ora se instala pelos arredores. Redemoinhos saem daquele som quebrado, descompassado. Nada combina, tudo é estranho. Furacões e ciclones se alternam em intensidade para quebrar toda e qualquer resistência. Pagodeiros à guisa de heavy metal gritam. Devo alertar que não sou contra a nenhum ritmo musical. Respeito a escolha de cada indivíduo. Alguém urra, ao microfone, palavras de ordem geral:

_ Vocês estão sob o poder do maligno! Saiam todos! Não podem resistir! Vocês não têm querer! São todos meus!

Paralelamente, todos clamamos pelo sangue do Cordeiro, pela proteção e livramento do Altíssimo em nosso favor. Lamentavelmente muitos são arrastados pelas janelas e portas como se fossem agulhas atraídas por um poderoso magneto. Mas continuamos firmes:

_ Estão repreendidos, pelo poder do Sangue do Cordeiro. Estão sem força, derrotados, em Nome de Jesus!

Todos os que estão conosco repetem em coro: _ “Repreendidos no Nome de Jesus!” _ Aos poucos aquela maligna força sobrenatural vai-se enfraquecendo, cada vez mais fraca até que…

Ufa! Acordo arfando, muito agitado, como se tudo aquilo fora real. Será?!!!

Alelos Esmeraldinus
Enviado por Alelos Esmeraldinus em 12/11/2015
Reeditado em 13/11/2015
Código do texto: T5446384
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