Pouco antes de dormir

“Rock mesmo” é um projeto ambicioso que surgiu no inicio do século 21.

Gostamos de música, gostamos mesmo de rock.

Antes, visitamos os bebês. A força da vida diante dos nossos olhos.

Pais seguros trazendo orgulho à família.

Quem gosta da essência do rock procura uma forma de degustação. É algo como uma necessidade de se nutrir. Buscar elementos que cuidam da homeostasia individual. Nada degenerativo, nada que catabolize ou destrua a composição corporal de quem ouve uma bela canção construída a base de rifs de guitarras marcadas pela originalidade, pela atitude, pela audácia, por algo inacreditável que chegamos a perguntar se isso é coisa do outro mundo.

Sabemos, por resignação, que são desse mundo mesmo. Afinal, os estúdios estão em Londres, NY e LA.

Vi pinos no ralo. Voltei ao meu lugar. Falei e escutei. Os caras são legais e também querem falar e escutar.

Damos palpites, somos enfáticos, criticamos dando soluções empíricas.

Está acontecendo... Danzig – She rides.

A canção é boa, a banda inusitada. Quem me apresentou Danzig foi o guitarrista dos RETINAS QUEIMADAS, Rasec Augusto. O cara é gente boa.

Sempre que bebo além da assimilação do meu corpo essa merda da Ambev que ela chama de Pilsen, mas que deve ser um tipo de Lager, porque tenho certeza da falta de lúpulo e tenho certeza que só muito gelada ela ira mascarar sua composição e sigo a risca o estilo da proposta, minhas papilas degustativas não me enganam e começo a salivar. Então cuspo. Benção celestial que manda essa chuva reta e volumosa, sem trovões, raios ou quedas de energia. Dai, a saliva se mistura com a água da chuva. Ganho tempo, petelecos nos besouros. Cuspo no chão molhado.

Haja besouros! Loucura deles baterem em lâmpadas acesas. Não apago as lâmpadas, deixo os besouros se divertirem.

A cerveja está degelando... Sinto um gosto de pamonha, papelão e esparadrapo. Vou joga-la fora e substitui-la por uma bem gelada. Busco me enganar. Sei que conseguirei, entendo a potência da geladeira. Fácil.

A geladeira me salva e como gosto de beber cervejas baratas da Ambev vejo minha geladeira como uma espécie de santidade. Ela me salva. Sou grato.

Na mesa, uma biografia do Black Sabbath, uma coletânea de Drummont. Não me sinto sozinho.

E, quando minha mulher chegar, seu lugar estará reservado na mesa. Ela se sentará ao meu lado e seus olhos demonstrarão orgulho e gratidão. Ela não pronunciará nada, apenas sorrirá e me tocará e me abraçará e emanará carinho. O acento agudo no final me confunde, trás dúvida. Torço para que ele não se torne o protagonista da narrativa.

Sua presença me entorpece, ela é meu vício. Ela me basta.

Penso nos amigos e percebo que a amizade tem um peso. É relativa; posta numa gangorra descerei. Sempre peso mais. Um tipo de consideração além, um toque fraterno, uma fábula humana em quilogramas.

Pensei em Esopo... Uma fábula é uma verdade moral que só humanos entendem, cercada de animais por todos os lados.

O Rock Mesmo pifou o carro. É vero que os carros não aguentam. Maquinas não estão preparadas para um projeto desse porte.

Mas, nada que um tranco em segunda marcha não resolva. Está tudo bem.

Quem me ensinou a escrever foi Jack Kerouac, então tento me lembrar como se escreve.

Quem me lê sabe que não forço a barra da escrita etílica, mas hoje meu vômito é esse. Desculpem-me.

Visitando meus pais, visito minha infância, sinto-me lúdico. Sinto-me a vontade quando piso na areia. Despojo-me do homem responsável, pois sei que as responsabilidades estão em dia.

Volto a ser um observador, um contemplador, um sonhador. Sonho?

Todos dormem agora. Digito. Escrevo. Ah, como escrevo.

Digito, sinto-me a vontade para sapatear no teclado. Santo Word que acompanha meu pensamento. A caneta e o grafite não têm mais a velocidade necessária para acompanhar meu pensamento hoje. Amanha, volto para o lápis. Nunca o abandonarei.

Escrever ébrio é uma aventura e só tem sentido se não houver revisão no dia seguinte. Fica como está; mantem-se a espontaneidade gerada pelo álcool das cervejas falsas.

Não sei como terminar isso, sei que comecei. Vejo que surgiram muitas, muitas palavras, muitas muitas frase e parágrafos. Mas não concluo.

Caro leitor, é necessário concluir isso? Esse tipo de visão escrita? Afinal, meus olhos só observam coisas, fatos, encontros, trajetos, trejeitos, retóricas, calçadas, nuvens, placas, peixes e pássaros.

Chove. Isso é bom. Gosto quando chove as duas da madrugada.

Parece que perco tempo escrevendo. É melhor deitar e curtir o som da chuva. Afinal, não é sempre que chove as duas da madrugada no primeiro dia do mês de novembro.

Penso que a chuva me ajudou a concluir. Vou publicar e dormir.

Amanhã, sóbrio espero não sentir a vergonha áspera; quem sabe um orgulho leve, daqueles assim...

Tudo bem; mas, não faça mais isso!

Marciano James
Enviado por Marciano James em 01/11/2015
Reeditado em 01/11/2015
Código do texto: T5433926
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