Um faz e o outro cumpre a promessa (Experimental Fé e Livramento)

A perna de cera

Esse caso de fé aconteceu na minha família e, com todo respeito, virou piada; até minha mãe, que foi quem fez a promessa, dava uma risadinha disfarçada. É o seguinte: Minha mãe rezava demais, muito além das pessoas da região; era um tipo que as carolas achavam carola: muitos filhos na fazenda, trabalhando com gado, terreno acidentado, cavalo em alto de pasto,etc. -  o que não faltava eram perigos de acidente. Certa vez meu irmão caiu do cavalo, num lugr perigoso, e contou para ela: - Ah, meu filho! Foi Senhor dos Passos quem livrou você de quebrar uma perna, um braço, bater a cabeça. Venha cá, deixe eu banhar esses arranhões, passar um vinagre com sal. Mas prometo, na próxima festa  lá no povoado, você vai levar uma perna de cera e depositar nos pés de Senhor dos Passos  - em sinal de agradecimento pela obtenção dessa graça.
Meu irmão até se esqueceu disso, a festa ainda estava longe.
Chegou o dia da festa. Quando ele já ia se aprontar, minha mãe disse: - Meu filho, tá lembrando-se da promessa de Senhor dos Passos? A perna de cera que encomendei já está aqui prontinha.
- Nossa mãe, que pernão!
- Meu filho é a medida de sua perna,
(com 16 anos ele já tinha 1.92m de altura) tirei medida em sua calça.
- Tô com vergonha.
- Nada disso, promessa é promessa. Tem que colocá-la nos pés da imagem de Senhor dos Passos.


Ele, então desistiu de aprontar-se. Foi com a roupa comum, correndo para levar a perna e depois voltar e por roupa nova. Desceu com o cavalo em disparada, segurando o pernão de cera, esperando chegar à igreja antes da procissão. Aí nenhuma daquelas meninas bonitas veria todo aquele transtorno. Quando chegou, apavorou-se;  a procissão já estava próximo. Na pressa, não querendo que ninguém assistisse à cena, ele entrou na igreja desatinado,  mirou de certa distância mesmo e arremessou a perna nos pés de Senhor dos Passos. Ele viu que ela quebrou em dois pedaços, mas não havia tempo nem para ajeitá-la. Deixou-a toda torta mesmo e voltou correndo tentando não ser visto.
Chegou  à nossa casa e avisou a mãe: - Mãe, eu joguei a perna e ela quebrou.
- Não, meu filho, não há problema; está cumprida a promessa, essas pernas vão ser derretidas mesmo para fazerem velas para uso nas missas.
- Ainda bem. Agora vou aprontar-me para aproveitar a festa lá no povoado, depois desse medão de as garotas me verem naquela situação estranha. Ufa! Quase que esse pernão complica  a minha festa e eu viro motivo de piada.

A fé de minha mãe valeu, porque ninguém nunca quebrou pernas, braços nem sofreu acidentes na fazenda, mesmo diante de vários perigos. Essa história verídica aconteceu nos anos de 1963 mais ou menos.

Este texto é um Experimental Geral - Fé e Livramento - criado pela poetisa Norma Silveira.

Maria do Carmo Fraga (Mariana Mendes)
Enviado por Maria do Carmo Fraga (Mariana Mendes) em 12/08/2015
Reeditado em 15/08/2015
Código do texto: T5344222
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