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Bosco Esmeraldo

 

O DESESPERO DAS MUDAS
Conto Calmaris #004: 

 

No pomar, um canteiro suspenso. Lindas rosáceas em moitas de rosa coloridas.

Ali, regadas diariamente galhos floridos em todas as direções. O jardineiro decide ser o momento ideal de fazer o transplante de novas mudas. Daquele modo iria fatalmente matar plantinha que eclodem em busca de um raiozinho de sol. De posse de uma tesoura de poda, para o desespero dos galhinhos, um a um vai sendo podado.

_ Socorro, Mãe! Faça alguma coisa! Ele está-nos matando!

_ Calma, filhotas! Ele sempre cuida de nós com impecável carinho. Não é dessa vez que irá nos fazer mal algum. Mudanças sempre geram dores, mas logo passam diante do melhor para o qual nos mudamos. Mesmo vocês estando nesse balde, o desfecho vai ser muito bom e verão o quanto vale a pena ser mãe. Relaxem simplesmente.

O jardineiro alheio a esse diálogo prossegue em sua lida, limpando aqui, podando ali até se dar por satisfeito. Segue em direção ao jardim frontal. Com o auxílio de um sacho, cava onze covinhas em linha e põe um punhado de terra vegetal, como cama para as novas mudinhas. Uma a uma, as põe em cada cama e complementa com a terra revolvida das covas. Aperta aqui e mais aqui com as pontas dos dedos. Pronto. Está feita a muda com sucesso e eficácia.

Ao sentir o frescor da terra adubada e o lançar espontâneo de radículas em torno de seu coto, as futuras roseiras sentem um prazer incrível ao perceber o porque do corte a desvincular do tronco de sua planta-mãe. _ “Como agradecer-lhe? Ele não entende fito-linguagem. Só tem um jeito! É isso! Vou expor meu viço e frescor como prova de gratidão”. _ Passando um beija-flor, logo lhe pede um favor.

_ Colibri! Colibri! Você vai também ao pomar?

_ Vou agora mesmo, Rosácea! Algum pedindo?

_ Sim! Por favor! Bem ali, atrás, tem um canteiro suspenso onde minha mãe está plantada, avisa pra ela que estamos todas bem e que agora entendo tudo o que ela tentou me ensinar sobre o ser mãe. Dá-lhe, por nós, um beijo de saudade.

[...]

Nem sempre o que nos parece mal o é de fato. Pensamentos precipitados geralmente nos levam a conclusões errôneas. Precisamos ouvir e apreciar todos os meandros e seguimentos do fato para que possamos ter a avaliação exata desse ou daquele acontecimento. E ainda assim, temos alguma provabilidade de falhar em nossas conclusões.

Portanto, devemos ver, ouvir e calar para refletir e, por fim, darmos por elucidada cada situação.


 


Alelos Esmeraldinus
Enviado por Alelos Esmeraldinus em 04/08/2015
Reeditado em 03/04/2019
Código do texto: T5334347
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