Do primeiro ao ultimo momento – A natureza de um amor com início, meio e fim.
Parte 1 – O Nascimento
Luz do Sol,
Brisa morna
O mundo gira no espaço
Sob o olhar que não vê,
Consciência que não percebe;
Tal como o movimento da vida;
Inalando, expirando,
Tornando parte do todo,
O indivíduo.
Coração batendo,
O sangue quente fluindo.
No vermelho; vida,
Refletida nos olhos; o espectro da luz.
No céu voam os pássaros
Através das nuvens, do azul,
Com eles voam os pensamentos
Sem forma, ainda,
Sem fim.
Sintonia...
O peito sobe e desce,
O ar entra e sai;
O coração bate;
Olhos captam a luz;
Pensamentos se formam:
Idéias, desejos, sonhos...
O ser toma consciência;
A natureza trabalha sua fórmula
E no cérebro se faz química.
Explosão!
Nasce o produto;
Surge o amor.
Parte 2 – Expectativa
De todas as coisas no mundo, o que mais me assustar é amar.
Não se pode controlar, de outro a vontade, o desejo; nada se pode ordenar.
“Seja meu, e somente meu, para sempre meu de corpo, mente, alma, espírito e coração”, eu diria se pudesse teu amor domar.
Tenho, no entanto a chance de seu afeto conquistar, e na nobre espera, ação toma ação, tudo em seu devido lugar, para que no fim de toda a expectativa, você aprenda a me amar.
Meu coração, de esperança se enche e no teu olhar eu me afogo sem sequer, direito, pensar.
No teu sorriso tudo se constrói e meu mundo sai da escuridão para prosperar sob a luz do meu sol, você.
E eu espero, espero e esperarei até o fim... até que o amor, ou Deus tenha piedade de mim, até que a mãe me tome para si e em seus braços eu morra para então retornar, e nessa nova vida eu sei, também irei te amar.
Parte 3 – Êxtase
Foi como o alvorecer do tempo, no início de tudo
O dilatar da pupila, a respiração ofegante
O gosto do beijo e o toque suave que me deixou mudo
O prazer eterno de ser seu amante
Cada gesto, um movimento gracioso
Como astros dançando no imenso universo
Cada movimento, um gesto caridoso
Como um anjo puro cedendo ao meu desejo perverso
Passado, presente e futuro nesse mero instante
A eternidade se estende para nós dois
E o tempo se curva à união dos nossos corpos, incessante
O agora é tudo; não antes, nem depois
E se nessa hora tão lúdica, viesse a mim a morte
Deixar-me-ia ir com a amante final de todos nós,
Com amor pela vida e um sorriso no rosto, entregue a própria sorte
Andando no escuro até encontrar-te, guiado apenas pelo som da sua voz.
Parte 4 – Dúvidas
O que quer que eu tenha feito, eu fiz por amor; entreguei-me na esperança de ter uma resposta... Não acredito que depois de mostrar todo o meu amor e a grandiosidade dos meus sentimentos você não seja capaz de me amar. O que você quer? O que você procura? Porque não me responde? Porque não me explica?
Você só me faz levantar questões, mas nunca as responde. Fica envolvido em sua névoa de mistérios brincando com os sentimentos dos outros. E eu que acreditei que você era o Sol, agora vejo que não é tudo o que eu queria que fosse.
Não entendo ainda se foi você que me enganou, mostrando-se uma pessoa que você não é, ou se fui eu mesmo que me iludi ao projetar em você a esperança de algo maior do que você poderia se tornar.
Parte 5 – Lágrimas
Olhos para ver, o que não mais o fazem.
Os meus choram,
Choram sem emitir som,
Choram sem demonstrar dor...
E esta boca que beijou a tua
Sente sede...
E as palavras que te amaram e acariciaram
Praguejam o universo
E se distorcem no grito da alma rasgada
E no som dos estilhaços da alma espalhada no chão
Vê? Alegra-te com a tua obra final
Destruíste meu amor
Apunhalara meu coração
E nem mesmo o choro,
O direito de confortar a minha dor
Com gritos e lamentos
Nem esse direito você me deixou.
Eu te amo, e amei... não sei se amarei por mais tempo
Pois eu nunca fui o suficiente
Sempre há alguém... E eu me encubro nas sombras da minha raiva
E a inveja me consome
E eu desejo a morte, o sangue
Eu destruiria a criação para arrancar do teu peito, o coração
E eu esmagaria com prazer e dor
A tua vida em minha mão.
Ah, deixa-me, por favor.
Deixa-me chorar...
Deixa-me morrer...
Eu não mais quero esse tormento.
Tem piedade da minha alma.
Parte 6 – A morte.
Feche os olhos, afaste-se da luz
Cada passo que deste o trouxera para mim
Eu sou a escuridão que te seduz
E tomo suas mágoas e tristezas até o fim.
Eu sou o abraço, que nos sonhos conforta o teu choro
Eu sou o fim para tudo o que começa
Deixe-me cantar para ti, com meu sombrio coro
A canção das estrelas para que, da vida se esqueça.
Dance comigo ao som do teu lamento
Lavando a tristeza do seu coração
Seguindo o caminho que leva ao esquecimento
Oh doce criança, venha e dê-me sua mão!
Eu sou as palavras que você precisa escutar
A estrada pela qual deves seguir
Sou a roda que move o tempo e o faz trabalhar
O horror do qual ninguém consegue fugir
O maior de todos os segredos é o meu nome
E de todos os Deuses eu sempre fui o que mais esteve perto de você
Mesmo sem conhecer a dor, a tristeza, o frio, a alegria ou fome
É o meu beijo que te faz, da vida esquecer
Em verdade eu lhe digo, criança
Não deseje me encontrar antes da hora
Um coração partido não é o fim de toda a esperança
Quando acordar veja o dia pulsante de vida lá fora!
Permita-se viver, permita-se amar todos os dias
Quando eu vier, sua história terá que contar
E vai rir quando relembrar que, amar, não queria
Então no fim, eu virei lhe buscar.
Parte 7 – Epifania
Ao despertar com o sol entrando pelas frestas da cortina, ele permaneceu de olhos fechados por um instante sentindo o calor em sua pele e percebendo com certo prazer que o Sol o estava queimando. Ele estava vivo e não mais indiferente.
Abriu os olhos e levantou-se, pela primeira vez em muito tempo disposto a sair da cama. Foi ao banheiro para escovar os dentes e parou admirado com o que via no espelho. Era ele mesmo, aquele estranho refletido e olhando-o de volta?
O tempo passou como sempre o fez e não poupou o rapaz por causa de seu coração partido. A tristeza cobrou seu preço e fisicamente ele mal conseguia se reconhecer. Não entendia como foi que mudara tanto.
Seus cabelos desgrenhados estavam rajados com fios brancos, sua pele antes perfeita, parecia porosa e quebradiça, seus olhos estavam inchados e marcados com olheiras, seus lábios antes rubros estavam pálidos.
Ele ficou triste, mas não por causa do amor perdido, e sim por causa do que ele permitiu que lhe acontecesse por causa desse sofrimento.
Naquele momento ele estava se recuperando e compreendeu que ninguém vale tantas lágrimas, tanta dor; ninguém vale o sacrifício de si próprio a menos que a outra pessoa esteja disposta a se doar. Mas o amor não é isso. Amor não é perda de nada, nem sacrifício.
O amor é diferente. Tão diferente que expressá-lo em palavras é diminuí-lo exponencialmente para encaixá-lo na compreensão limitada que um ser humano é capaz de tentar entender.
Ele sentiu que jamais fora amado, mas que o sentimento poderia ter se tornado um grande amor, porém assim é a vida; o amor só prospera quando é mútuo e a única forma de amor que realmente vinga e recompensa sem outra pessoa é o amor próprio. Esse é o sentimento que ele iria plantar em seu coração a partir de agora.
Amar a si mesmo antes de amar outro. Aprender a ser inteiro e completo sem a necessidade de alguém para complementar sua felicidade. Então quando ele se apaixonar de novo, não irá cobrar do outro o que lhe falta, mas irá oferecer o que lhe sobra e nunca mais seu coração sentirá a faca afiada da decepção.
Ele escovou os dentes e tomou um banho, penteou os cabelos e se vestiu da melhor forma que pôde. Ele iria sair para ver o mundo, aproveitar o sol e sorrir...
A vida sempre continua e nada é feito para durar para sempre. O segredo é encontrar a eternidade nos segundos da mais pura felicidade, pois esta só é ilimitada e perene na lembrança.