De grão em grão [97]
A PALAVRA "OBRIGADO"
Acho a palavra “obrigado” em português meio estranha. Se levada literalmente pode não denotar exatamente o que se quer expressar. Pode soar como obrigação, conforme a sua origem, da expressão completa: “fico-lhe obrigado” ou “tenho agora uma obrigação para com você”. Que favor ou gentileza mais cara essa, a ponto de gerar em troca uma obrigação, né?!
Em outros idiomas que conheço, a palavra é mais bonita. Em inglês, é usada a mesma expressão do verbo agradecer – “to thank”. E em espanhol, é “gracias”, que vem do termo latino “agere gratia”, ou seja, “reconhecer o agradecimento”.
Existe uma crença de que a palavra japonesa “arigatô” tenha origem na língua portuguesa. Mas é errônea, eu conferi. “Arigatô” é a forma moderna de “arigatashi”, do japonês arcaico, que junta “ari” (do verbo “aru”: ser, estar, existir) e “katashi” (dificuldade). Literalmente, era “há dificuldade” ou “tenho dificuldade em expressar minha gratidão frente ao seu ato”.
Piorou. Voltemos ao bom português.
Mas no lugar da obrigação, poderíamos dizer “grato” ou “agradecido”. Essas sim representam melhor o que se quer dizer, ou seja, a valorização do que foi feito, sem o desconforto de gerar a obrigatoriedade da retribuição. Porém, acho também que “grato” ou “agradecido” são muito formais... pouco comuns... e por consequência, acabam também meio estranhas (para mim!), embora tenha sim gente que as usa.
Portanto, me rendo ao costume e à força da utilização, e continuo usando “obrigado”. Creio que pelo contexto seja sempre bem claro a todos que o “obrigado” tenha a conotação da gratidão. Porque nem todas as pessoas são assim, como eu, metodicamente apegadas (e incomodadas) ao significado literal de cada palavra...